Pequena resenha sobre o livro “Nenhum pássaro no céu” de Luiz Horácio
Pequena resenha sobre o livro “Nenhum pássaro no céu” do autor Luiz Horácio
Às vezes, uma história aviva importantes temas em detrimento da busca da inspiração, fundamentada em narrativas hegemônicas, de mesclas de ritmos e rumos. Neste texto imperdível do autor Luiz Horácio, têm-se a impressão de que a vida acontece no tempo preciso, na hora imaginada, na qual o sol poente aparece brilhante e belo para os personagens, entre os quais nos incluímos. Ou seja, no ritmo de nossa respiração. Não é uma história comum. Por outro lado, não é uma história de temas grandiloqüentes, mergulhada em objetivos pomposos, ou subordinada a emoções baratas para fisgar o leitor. Ao contrário, é a história de nossas vidas, nossos antepassados, culminando com a própria história do RS, contada com uma maestria que aliada ao lirismo e à poesia, apresenta uma arquitetura talvez nunca antes explorada. Perpetua, portanto, num clima onírico e ao mesmo tempo pictórico, o imaginário corporizado na prosa e na poesia. Talvez palmilhemos caminhos diferentes lendo esta historia de bravura, amor e imaginação. A vida e a morte andam tão amiúde, que muitas vezes nos confundimos o que é vida ou o que é morte ou se tudo é uma coisa só.
A história em sua urdidura de fundo, apresenta um proprietário de terras, cujas relações permeiam a realização do sonho ou o simples ato de sonhar, de cultivar a emoção pura e fugaz, de preservar o que resta de vida na memória de sua região, ou seja, o mito que se substancia no conhecimento dos povos e do compromisso com a sua realidade interior e a dos demais. Temas como a morte, o amor e o reconhecimento do outro persistem em toda a narrativa, transformando o mundo que os cerca. Ou apenas marcando território, para deixar brechas ao leitor nas descobertas que pretende apontar. Seu nome é Camilo Sosa, para o qual é anunciado um presente no decorrer da narrativa, cujo embrulho é invariavelmente investido de grande importância e curiosidade, como parte integrante da estrutura. Essa provocação deixa o leitor intrigado, na tentativa de descobrir do que se trata afinal tal presente tão comentado. Porém o autor de modo sagaz, induz o leitor a experimentar a sensação da verdadeira importância das coisas, o que na concepção de mundo de Camilo Sosa (e do próprio autor) são as relações que emergem dos encontros a partir do anúncio do presente esperado. Qual seria o maior presente para Camilo Sosa e seus amigos, a não ser a convivência com os seus, o desabrochar de novas ligações, novos conhecimentos, novas trajetórias, novos encontros. O presente, na verdade, é mero pretexto para transformar a vida em quimera, os caminhos pessoais em trajetórias coletivas, os objetivos em metas definitivas. Enfim, é a luta da preservação do sonho e da liberdade, da maneira de pensar e agir, do “descompromisso” com a realidade alienante e a possibilidade do encontro íntimo com a imaginação. É uma história que parte do regional para o universal, porque remete aos temas íntimos a toda humanidade. Uma história densa que deve ser lida com o coração, com o cuidado dos que procuram mais do que uma simples narrativa, mas um sopro de liberdade.