Fome - Knut Hamsun
Título Original: Sult
Nacionalidade: Norueguesa
Ano de Publicação: 1890
Obra-prima do controvertido Knut Hamsun, FOME é um livro distinto dos padrões da época. Crítico ferrenho do Realismo e do Naturalismo, Hamsun criou uma obra de vanguarda, com ingredientes inéditos e permeada de paradoxos que a faz cortante, mas ao mesmo tempo divertida. Décadas depois, as invenções estéticas e temáticas de Hamsun vieram a influenciar os modernistas em sua revolução na arte.
Com um fundo autobiográfico, FOME é narrado por um instigante homem. Ele é extremamente inteligente, mas que por motivos não revelados acaba vivendo na miséria, sempre com fome, sofrendo diversas infelicidades e humilhações em suas andanças pela cidade em busca de comida. Suas constantes divagações sobre a humanidade e sua condição são feitas a partir de um individualismo gigantesco. Tudo o que acontece passa pelo seu filtro, às vezes com ironia, outras com críticas e algumas com desdém.
Hamsun conduz a obra com maestria, colocando os devaneios do homem no centro das atenções. Seus conflitos internos compõem a parte mais interessante da obra. Ele varia da lucidez à “insanidade” com uma rapidez incrível. O homem se mostra uma figura cômica e preocupada, mas, simultaneamente, séria e perspicaz. O leitor logo se identifica com ele por causa do seu jeito incomum, da sua visão ímpar das coisas, da sua inteligência desperdiçada e da sua triste situação.
O grande triunfo de Hamsun foi criar um livro que aborda a pobreza sem cair no clichê do marxismo. Ele não leva a obra para o lado político em nenhum momento, sempre mantendo o foco nas experiências vividas pelo narrador e suas paradoxais impressões sobre cada uma delas. É por isso que alguns consideram Knut Hamsun como um dos criadores do fluxo de consciência (onde os pensamentos do personagem são retratados sem interrupção), muito comum em obras modernistas como Ulisses de James Joyce.
Talvez por ter vivido situações semelhantes, Hamsun criou uma obra extremamente verossímil, onde o sofrimento e as perturbações trazidas pela fome são elementos muito bem construídos no texto. O Nobel de 1920 veio coroar essa genialidade transgressora do autor, o qual se mostrou muito parecido com seu inconstante personagem ao defender o nazismo alguns anos depois. Porém, isso não faz de FOME menos genial.