Prefácio do livro:Cânticos Eróticos e Entrelaçados

APRESENTAÇÃO
Cânticos Eróticos e Entrelaçados
Poemas - Prof. Sebah
Cantar a poesia e entrelaçá-la, ela nela mesma, já que
o poema é puro enlace e ritmo. Cânticos Eróticos e Entrelaçados
traz, desde o seu título à inteira concepção, a idéia de
atar mesmo, as coisas todas, fazendo parte de um elo que
sempre existiu: cantiga e erotismo, inspiração e sensualidade,
amor e sexo. Sem nunca perder o compasso e reduzindo
as antíteses, o poeta Sebah cumpre o papel do alfaiate
que vai cozendo palavras e sensações numa única
forma cadenciada e solícita.
Como uma peça de dois atos, o livro parece estar
dividido quando agrega poemas em suas partes Mulheres
de Vidro e Erotismo Entrelaçado. Mas ora, haverá sentimento
mais erótico do que o olhar por sobre uma mulher?
Torna o alfaiate a tecer ligações. E dentro de cada uma delas
existe a figura feminina querida – esposa, mãe, filha, uma
desconhecida que, por muito pouco, não seria vista. Nada
aparece mais predominante do que a feminilidade da
mulher que – como um ser de existência extraordinária –
é capaz de consolar passarinhos ao mesmo tempo em que
abre doridos ferimentos de solidão. Nesse jogo de entrelaçar
trocadilhos, a sutileza de todas as mulheres parece condicionar
o seu lado, indesviavelmente, dilacerante.
E com quantos versos se faz um poema? – indaga o
quase poeta em uma de suas famintas interrogações. Mas,
ai, que todo bardo é antes de curioso um experimentador
de situações inquestionáveis, as quais não se deve medir. A
palavra: um colo macio para o adormecer; uma macieza
que imita a confortável sensação de se esconder no sótão de
uma retina, caso a tal retina seja de uma dama-menina sensual
e sapeca. O ciclo de contrastes é estendido até o poema
Maria Índia Urbana, como se não fosse heresia parear o sensual
e o santo, como se não houvesse incoerência em extrair
espasmos puros de debaixo do pecado, quando um meticu8
loso “porém” salta à vista: heréticos e pecadores são adjetivos
humanos, a poesia é sobre-humana.
Em Cânticos Eróticos e Entrelaçados, a geografia é,
além de tudo, um convite ao passeio e o poeta sugere, a
começar pela lendária Ipanema de Tom Jobim, um aporto
no mar das Garotas de Todas as Praias. Uma percepção
feita a olho nu de que cada menina lambida de sol é um
mapa turístico a ser explorado. Depois, sussurros são canções,
lábios frutas maduras, danças são moinhos de vento.
O erotismo é uma fome que não passa e na quentura
dos pensamentos também se come, sem nenhum pudor,
sanduíche de brasas, sorvetes em forma de pirâmides do
Egito e, quando chegar a sede, lábios desaguarão feito oásis
cristalinos.
Adentrando o Erotismo Entrelaçado, uma espécie de segundo
ato, há um abrir de pensamento para a “realidade virtual”
– outra daquelas expressões formadas por palavras que visualmente
brigam entre si, mas, juntas, atingem uma enorme tendência
ao complemento. Ao visualizar layouts, optar por teclar seios,
é provável que se tenha um orgasmo por e-mail, brinca o artesão
em pleno conforto da novidade.
O puramente tátil, é bem verdade, tem espaço reservado
em desejos devassos, beijos ilícitos e poemas de orgia
que se sucedem ao longo de todo versar.
O corpo é uma área ainda mais explorada, seja ríspido
feito arame e farpa ou delicado como tecido tácito.
Passeios continuam, perpassando línguas a recitar poemas
doces, quentes, e os demais sentidos se fazem presentes
quando é preciso o sentir de um perfume lancinante. No
momento do gozo, o trovador ejacula versos de verbos leitosos
numa boca serena em vírgulas, voando na busca de
um ponto final – momento mágico de sua composição alinear
no alucinante Versos e ejaculações. O “eu lírico” passeia
pela identidade de Ninfetas e Santas – que são puras,
juram por Deus! – mas se despacham na boca inebriada
de um Zeus.
No contundente Cânticos Apócrifos – algo como um
salmo de bíblia pagã – profano e sagrado dividem novamente
o mesmo espaço, atiçando gemidos sacrossantos ou
9
saciando de rezas a sede. O sexo fugidio das amarras do
tempo copula em modo atemporal, comendo os dias, lambendo
as tardes, engravidando relógios que, desde antes,
já haviam entregado os ponteiros. O absurdo vai se aproveitando
das brechas do possível e o impossível perde
espaço quando a caminhada se dá em solo excitante e fértil.
A solidão do poeta, antes flores que espinhos, tem sempre o
amparo da poesia; e um homem só, desarmado, entregase
mais facilmente ao deleite de um Gozo Solitário, fertilizando
mãos à simplória presença do pensamento.
A poética dos versos, em si, é um ato de sedução.
Em Cânticos Eróticos e Entrelaçados, gozar, um disco arranhado
que acompanha todos desde a puberdade, vai ganhando
mais formas e gostos à sintonia viva do corpo e da
mente. O prazer é, de alguma maneira, mais prazeroso. A
liberdade existe e, escancaradamente, está próxima para
atos e pensamentos. O sentimento de estar à vontade é
ainda pouco para definir este livro que parece, dado momento,
dizer “ais” e “uis” sem o menor constrangimento.
Isolda Herculano/Salvador, Abril, 2008
(Poeta e Jornalista
Prof Sebah Andrade
Enviado por Prof Sebah Andrade em 04/11/2008
Reeditado em 04/11/2008
Código do texto: T1264760
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.