A hora da Luta
Sem sombra de dúvida, “A Hora da Luta”, de Álvaro Cardoso, é uma simbólica remontagem da juventude estudantil brasileira no início da década de 60, que se achava fortalecida por ideais revolucionários, imaginando uma transformação mundial, sem miséria ou qualquer tipo de opressão.
Em sua desilusão com a falta de perspectiva que lhe era ofertada pela cidade de Americana, no interior paulistano, em meados desta década, Roberto, um jovem que apresentava 17 à 18 anos, decide mudar para a Capital de São Paulo, onde coincidentemente também vai morar sua namorada Lúcia Helena. Órfão de mãe, deixara seu pai em Americana, e tinha um irmão, Lelo, com residência nos Estados Unidos.
Inicialmente vai morar com um amigo, o Batata, em uma academia de ginástica onde este trabalhava, mas logo arruma um emprego extremamente burocrático no antigo Banco Nacional, e resolve mudar-se para uma pensão. Sua namorada vai morar na casa de sua tia Olívia, uma senhora muito séria e bastante conservadora. Lúcia presta vestibular, e consegue obter o primeiro lugar no curso de Letras da PUC. Roberto, ou Beto, como queiram, começa a estudar no curso secundário, hoje conhecido como ensino médio, no Colégio Caetano de Campos, onde conhece Valentim, um jovem completamente revolucionário.
O Estado de São Paulo enfrenta turbulências de todo país, às vésperas do golpe militar de 1964. Beto passa a freqüentar a Universidade de São Paulo (USP), na Rua Maria Antônia, lugar dos estudantes de esquerda, e com sua curiosidade, começa a participar das reuniões secretas estudantis, mas sem perceber, aos poucos passa a colocar a luta política dos estudantes, acima de sua vida pessoal, fazendo-o perder o interesse pela escola, pelo trabalho, e impulsivamente, romper o seu namoro com Lúcia. Conhece então a Fernanda, uma moça de idéias também revolucionárias, que resolve iniciar perseguições pelo DOPS (polícia), por causa do seu engajamento na luta estudantil.
Beto é despedido do banco, e tempos depois, encontra-se sozinho, sem emprego e sem a garota que ama, daí, resolve então repensar sua vida... Passa a trabalhar na Apostilaria do grêmio estudantil do colégio, e mais tarde, já conscientizado, finalmente reata seu namoro com Lúcia Helena.
As imposições do sistema militar, realmente geraram crises discrepantes na sociedade jovem da época, portanto, em sua linguagem convencional e estética, Álvaro Cardoso, foi feliz ao meu ver, conseguindo driblar algumas questões de caráter político, mas evidenciando com classe, uma realidade de muitos jovens brasileiros nesse período.