Mulheres Negras do Brasil
Cantada em versos e prosas, e comumente homenageada em filmes, novelas e sambas-enredo, a escrava Chica da Silva é o primeiro nome que vem à mente quando se pretende falar da emancipação da mulher negra no Brasil. Vários nomes, por sua vez a antecederam, inúmeras afro-descendentes se destacaram na luta pela liberdade, cada uma a seu modo, e isso ocorreu à margem da historiografia branca oficial, que nem ao menos às menciona. Alguém já ouviu falar, por exemplo, em Marina Baptista de Paracatu, que ofereceu à Rainha de Portugal Maria I, um cacho de bananas de ouro em troca de um título de nobreza? E de Rita de Souza Lobo, também natural das Minas Gerais de Chica da Silva, que descobriu uma mina de ouro, com a qual comprou a sua liberdade? Nenhuma delas está nos livros escolares, mas seus nomes acabam de vir à luz no excelente livro “Mulheres Negras do Brasil”, de autoria de Schuma Schumaher e Érico Vital Brasil (Editado pela Rede de Desenvolvimento Humano e pela Editora Senac).
O livro faz um apanhado do Brasil Colônia aos dias de hoje, estudando o papel das mães-de-santo, mães-de-leite, parteiras e curandeiras, além de abranger a política e os movimentos sociais, atingindo até sensacionalmente, o esporte e à cultura, destacando nomes como os das atletas Melania Luz e Wanda dos Santos, as pioneiras negras a participarem de uma Olimpíada. Nas artes, refere-se à Cantora Elizeth Cardoso, apelidada preconceituosamente de “faxineira das canções”, no início de sua carreira, que conquistou com seu próprio esforço, o título de “A divina”, na década de 60.
O impressionante jogo de cintura para a sobrevivência das negras, inicia-se pela atividade das famosas quitandeiras com seus magníficos tabuleiros na cabeça, atividade que, segundo Shuma, originou o comércio ambulante no País. Dentre outras curiosidades, o livro é uma extrema biblioteca de conhecimento da cultura negra no Brasil.