O ENGENHO DA NARRATIVA E SUA ÁRVORE GENEALÓGICA:DAS ORIGENS A GRACILIAMO RAMOS E GUIMARÃES ROSA

MOTTA, S.V. O Engenho da Narrativa e sua Árvore Genealogia: Das Origens a Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa. 1. ed. São Paulo: Editora UNESP, 2006. p. 40-95.

Em “O Engenho da Narrativa e sua Árvore Genealogia: Das Origens a Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa”, Sergio Vicente Motta faz um trajeto histórico sobre a origem da narrativa até esta se consolidar no atual romance. No primeiro capitulo o ator divide o texto em seis seções onde utilizando da analogia de uma árvore (do nascimento à expansão) ele vai descrever todo processo de surgimento deste gênero literário. Na primeira parte, Breviário de nascimento, vida, morte e ressurreição do gênero épico, o autor faz uma trajetória do gênero épico desde Grécia antiga, e dos seus criadores, os rapsodos e em especial Homero que segundo o autor “lhe deu essência substantiva e expressão adjetiva perpetuando-o como marca de grandiosidade”.

Nos primórdios o gênero épico ao lado da lírica e do drama formava um pilar de sustentação da literatura ocidental. Esse gênero literário através dos séculos vem marcando a história do homem através da representação das emoções, fatalidades, aventuras e conquistas da vida deste homem de uma forma mais sublime e poética. Na segunda subdivisão deste capítulo denominada, Poesia elevada: do mito aos vocábulos peregrinos, o leitor é informando sobre o processo de cristalização do gênero épico, pois Homero ao traçar contornos rígidos e perfeitos para o gênero acaba preservando seu modelo clássico para a posterioridade. Aristóteles e sua poética foram os responsáveis pelas primeiras diretrizes teóricas desse gênero. Para Aristóteles a epopéia tinha algumas semelhanças com a tragédia e é através desse processo de comparação que o grande estudioso grego elaborar as diretrizes da epopéia, pois para ele a tragédia e a epopéia eram regidas pelas mesmas leis.

Na terceira subdivisão, Dos tempos imemoriais: raízes. Sergio Vicente Motta dar inicio ao processo de comparação do gênero narrativo com a árvore. E como o título evidencia seria a poesia épica as raízes desse gênero. Nesta parte o autor trabalhar com os teóricos do gênero narrativo Robert Scholes e Robert Kellogg e também com o conceito de critica arquetípica de Northrop Frye. Assim, embasado nesses teóricos o autor desenvolver a idéia que no primórdio o gênero épico estava conectado com a religiosidade neste caso específico com o mito sacro. Esse mito sacro retirado seu contexto de religiosidade e adicionado de um principio histórico dariam os primeiros estímulos para as narrativas. A crítica arquetípica trabalha a narrativa como um ritual ou imitação da ação humana, dessa maneira a narrativa literária é um ato recorrente de comunicação simbólica, um ritual.

No desenvolver desta subseção, o autor continuar trabalho a crítica arquetípica e o conceito do mito sacro juntamente com os rituais presentes nas sociedades clássicas antigas, rituais estes como o da fertilidade, purificação e mortalidade. Usando-se da teoria de Frye, o autor faz uma exposição sobre dois movimentos relacionados ao rito de fertilidade: o primeiro movimento é cíclico dentro da ordem natural e o outro movimento é dialético dessa ordem. Após essas explicações, Sergio Vicente Motta nos apresenta o mythos que seria o enredo. O mythos representa os ciclos da natureza e no texto é classificado da seguinte maneira: mythos da primavera: a comédia, mythos do verão: a estória romanesca, mythos do outono: a tragédia, mythos do inverno: a ironia e a sátira. No campo das personagens, o autor expor o movimento do herói na epopéia: para alto correspondente à integração do herói na sociedade e para baixo correspondente ao rebaixamento do herói. Na epopéia clássica, o herói tem dons especiais dados pelos deuses, ele é um ser divinizado, já na narrativa moderna esse mesmo herói ira sofrer um processo oposto, o herói será humanizado.

O mito sacro será a semente da lenda e do conto popular e estes se transformarão no princípio da estória romanesca. Assim, nós encontramos na epopéia clássica grega com influências da lenda e do conto popular o primórdio do romance atual.

Na quarta parte do primeiro capítulo O tronco originário: a síntese épica, o autor continua a comparação do gênero narrativo com uma árvore e nesta parte ele trabalha um aspecto muito relevante da epopéia clássica: a figura do herói. O ponto alto dessa parte é a contraposição da figura do herói entre Aristóteles e Frye, o herói elevado e entre Aristóteles e Scholes e Kellogg, um herói estático e opaco. Sergio Vicente Motta também expor em seu texto o surgimento do herói épico, o que é a unidade de ação e sua multiplicação que resultou no romance. Nesta parte o autor irá explanar sobre os elementos que dão organicidade a narrativa.

Na quinta parte Travessia: do rito ao mito, o autor nos mostra o processo de transição do rito ao mito. Que ocorre quando o rito perde sua carga religiosa e como conseqüência as personagens heróicas irão humanizam-se. O mito munido de elementos históricos e filosóficos irá se tornar a síntese épica. Esse processo de transição terá seu auge no pós-Renascimento tornando-se o romance. Servindo como um veículo de expressão da burguesia. O período em que a epopéia intermediou a religião e a arte marca o momento em que na árvore da narrativa floresce dois novos galhos a partir do galho mítico: o galho mimético (plausível) e o galho ficcional (imaginativa).

Na sexta e última parte deste capítulo Mythos e mímesis, o autor diferencia o mythos da mimesis já que muitos os consideram equivalentes, mytos seria o produto de um fazer poético (arte da imitação) e a mímesis que seria o processo de construção. Assim também como diferencia poesia (relata o que poderia ter acontecido) de história (relata o que aconteceu), ou seja, realidade de ficção e desenvolve o conceito de imitação.

Nesta última parte, o autor irá se utilizar de uma análise detalhada do poema Ulysses de Fernando Pessoa para exemplificar todos os conceitos referentes ao gênero épico presentes neste texto e para explicar o processo de retorno ao mito e a estrutura da narrativa. Como esse poema Sergio Vicente Motta encerra seu o primeiro capitulo de seu livro mostrando para o leitor o processo evolutivo da narrativa épica até o romance, o processo de transformação do herói.

Como esse primeiro capítulo, o leitor irá viajar através do processo evolutivo do gênero narrativo partindo da poesia épica oral até o romance moderno. Nessa viagem o leitor também irá aprender ainda mais sobre esse gênero literário tão fascinante e enigmático.

NAIARA AIRON
Enviado por NAIARA AIRON em 19/10/2008
Código do texto: T1236379
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