“O Natal é a celebração da vida” Sobre o "Livro de Natal" de Luiz Carlos Amorim
“O Natal é a celebração da vida”
Sobre o “Livro de Natal” de Luiz Carlos Amorim
A temática especifica, Natal, torna este um livro ainda mais especial. Não é segredo para ninguém que a época natalina sempre exerceu fascínio sobre a humanidade. Isto posto, não poderia escapar à sensibilidade dos escritores, muito embora nem todos tenham conseguido, pelos mais diversos motivos, reunir tais escritos em livro. O autor Luiz Carlos Amorim, no entanto, vem com esta edição, brindar o leitor pela segunda vez com o seu “Livro de Natal”.
Brindar é maneira de dizer, porque ”Livro de Natal” é um mágico presente que chega embrulhado em três belíssimas embalagens: crônicas, contos e poesias, num total de vinte e nove textos. Justiça seja feita, até o título desta apresentação, cujo convite muito me honrou, foi retirada de uma frase contida num destes belíssimos textos.
É certo que um livro, qualquer que ele seja, é um objeto, portanto tão palpável quanto qualquer outro. Então claro está que eu me refiro ao “presente” possível de ser resgatado entre as linhas deste leque delicado que, aberto, nos perfuma a alma, seja à custa de mirra e incenso das mais remotas noites de Natal, ou de uma inevitável melancolia decorrente do sentido já tão deturpado que o comércio atribui à época do Natal. Só uma coisa é certa: a importância da data; e o autor nos relembra isto quando escreve: “... Natal, essa época mágica de desembrulhar esperanças, de dar de presente carinho, compreensão e amor, de construir e fortalecer a paz e a fé, de engavetar a saudade...”(2).
E não há que se esperar o romper da última embalagem para maravilhar os olhos e o coração do leitor, e despertar nele a criança que um dia foi, quando se lê: “ ... temos que resgatar o nosso eu-criança em algum cantinho, temos que continuar sendo um pouquinho criança para não deixarmos de festejar com a alma e o coração o nascimento do menino Deus...”(3).
Já que eu falei em presente, houve outro, então recebido pelo autor, e também falando em Natais (4) e que, segundo ele teria o poder de ressuscitar o Natal dentro de todos nós. É este ressuscitar, por mais que o comércio se aproprie da data, o que o Natal, pela força do seu significado transcendental deve evocar em todos nós. Ciente disto, Luiz Carlos Amorim, destaca: “... as nossas crianças precisam ser esclarecidas, desde bem cedo, sobre o significado do Natal. Precisamos ensinar-lhes que o Natal não é simplesmente uma data para se ganhar brinquedos de Papai Noel...”(5) e que esta data é antes de tudo “... a oportunidade de reafirmarmos nossa fé em uma força superior que rege o universo, que rege o futuro, não importa o nome que lhe demos...” (6).
São roupagens diversas - e às vezes é a mesma -, e diferentes abordagens, sempre versando e materializando o Natal. E se esta importante data, curiosamente, é invocada até mesmo no inverno, é devido a presença de outras árvores, tão amadas quanto as de Natal: os jacatirões (7). Árvores de Natal? Por que não? Pois se não são elas as que depois, “... em fins de outubro, início de novembro, no auge da primavera, prenunciam o verão e anunciam a festa maior da humanidade...”(8)?
É encantador que ainda se fale em Natal com todo o mesmo encanto que a gente vai supondo desbotado no coração das pessoas, e também em presépios, porque “... Natal não se resume a presentes, Papai Noel, árvores enfeitada, guloseimas e roupa nova, coisas que nem todos podem ter...”(9) e que nos seja relembrado através desta bela crônica (Presépio de Natal), e através do encantamento que a ocasião exerce sobre as crianças, que o Natal não é esta data consumista em que vivemos, salienta o autor.
E para comprovar que o Natal não é apenas uma questão de presentes e guloseimas mas também de sonho e encanto, o autor emociona quando conta que numa feita encomendou a visita de um Papai Noel para surpreender as filhas e outras crianças (10), tendo este no entanto se embebedado nas visitas anteriores e faltado ao combinado. Mas o clima natalino, ele diz, foi restabelecido de forma bem mais subjetiva, ou seja, com cânticos e comentários sobre O aniversariante. Emocionante também um conto muito realista (11), onde crianças são inquiridas sobre o sentido do Natal. Não menos emocionante é a crônica onde relata a perda de uma filha bem próximo à data natalina: ”... e dentre tantos Natais felizes, um foi muito triste, para mim e para minha esposa: perdemos nossa primeira filha no final de um outubro, numa primavera linda, quando as primeiras flores de jacatirão começavam a desabrochar. E quando dezembro chegou, a ferida ainda doía muito e nunca uma criança – a nossa criança - fez tanta falta num Natal...”(9).
É na embalagem das poesias natalinas, no entanto, que a o brilho puro do Natal se faz mais característico através dos versos de Luiz Carlos Amorim: Um menino, / espírito de luz,/ símbolo do amor, / de fé e de esperança, /nasceu em meu coração./ É Natal...”(12). Nestes poemas o autor também conjuga a lírica do tema natalino entremeada à poesia da paisagem, muitas vezes através das belas árvores dos jacatirões: “... meu pé de jacatirão/ caiu semente em mim.... pintou de vinho, / vermelho e paz / todo o chão/ do meu coração...” (13); e “...é dezembro, / é verão, é Natal... / Explode com força a cor / da flor do Jacatirão...”(14).
Por fim, em “Livro de Natal” há relatos de muitos e diferenciados Natais. Ora são parte integrante das memórias do autor, ora relatos transversais, como os que ele cita as árvores dos jacatirões, comentários de relatos natalinos em músicas, outros livros e poesias. Tudo sob o olhar sensível dele, que vai retratando a importância da data e também de se cultuar o verdadeiro sentido natalino.
Se algum livro pudesse dizer “Hou, hou, hou”, outro não seria senão este.
Cissa de Oliveira
Bióloga, professora e escritora
Campinas, setembro de 2008.
2 Crônica: Natal Presente
3 Crônica: Natal Presente
4 Livro “Crônicas de Natal e Histórias da minha avó – de Urda Klueger
5 Crônica: O Presépio e o Natal
6 Crônica: O verdadeiro Sentido do Natal.
7 Crônica Árvore de Natal
8 Crônica: As Flores de Natal
9 Crônica: O presépio e o Natal
10 Crônica: Todos os Natais
11 Conto: O Presente de Natal
12 Poema; Natal no Coração
13 Poema: Árvore de Natal
14 Poema: Explosão