NA DISTÂNCIA DESTE TEMPO
Na Distância deste Tempo
Nadir Silveira Dias
“Ao Nadir Silveira Dias
açoriano gaúcho,
com meu abraço
das Ilhas de Brumas
Marcolino Candeias
Porto Alegre, 31.10.2003”
Esta bonita dedicatória a recebi no livro “Na Distância deste Tempo”, de Marcolino Candeias Coelho Lopes, em retribuição ao ato de oferecer o meu primogênito literário “Rastros do Sentir” e o recém lançado Volume I – “Genesis “– da Coleção Autores Reunidos, da Sociedade Partenon Literário, série que edito desde então, agora indo para o Volume IV.
E tal ocorreu por ocasião do Encontro Raízes Açorianas no Brasil – Rio Grande do Sul, promovido pela Direcção Regional das Comunidades do Governo Regional dos Açores, realizado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, de 28 a 30 de outubro de 2003, Horta, 30 de outubro de 2003, assinado por Dra. Alzira Maria Serpa Silva, Directora Regional das Comunidades.
Nesse passo, andava e ando a procura da palavra certa.
Ando a procura de uma palavra que faça amor ao simples enunciado. Uma palavra que cante a vida, que cante a amizade.
Uma palavra que cante a amada Porto Alegre, de 60 casais, a Piratini, de 1789, de 48 casais açorianos, a Viamão, de 1741, o Rio Grande, de 1737, a Santo Antônio da Patrulha, de 1719, a São Luiz Gonzaga, de 1687, a São Nicolau, de 1626.
Uma palavra que cante a Grécia, a Normandia, a Provence, a Trapani, a Sicília.
Uma palavra que cante o Brasil, Portugal, Madeira, Galícia, seus amores, Açores, nossos amores!
Uma palavra que cante a própria aldeia, a alheia aldeia, e o universal que cada qual expressa e contém.
E não estou só! Ainda bem! Marcolino Candeias, da sua Cinco Ribeiras, da sua morada na Rua do Galo, na sua Angra do Heroísmo, na sua Ilha Terceira, dos Açores, também canta a sua Terra, o seu Povo, a sua Gente, da sua Ilha de Bruma. É dele o poema que segue, da sua Ilha da Emoção:
“Crepúsculo na Ilha
Marcolino Candeias
I
O dia morre como se adormecessem vozes
nas bocas dos animas
tecidas
num esvoaçar de sons
II
O lavrador vestido de suor
planta no bater da estaca
o gesto último
de quem prende à terra toda a sua vida
III
No cheiro a erva
um sonoro subtil soar de silêncio
brota um crepúsculo de flores esmagadas
IV
No ar
paira um odor calado a maresia”
O livro apresenta-se em quatro capítulos curtos: Gente e Tempo, Ilha de Emoção, Ítaca, e Distância, em todos se têm a percepção nítida do hálito de mar, da açorianiedade imanente, e se constitui em um canto à terra, um canto ao mar, um canto à palavra!
Marcolino Candeias (Coelho Lopes) é poeta e escritor, bacharelado em Filologia Românica na Universidade de Coimbra. Atualmente é o Presidente do Gabinete da Zona Classificada de Angra do Heroísmo. É uma das vozes “(...) mais importantes do grupo a que pertenceu e a que se convencionou chamar Geração Glacial, fundamentalmente preocupado com os valores mais profundos relacionados com a sociedade, a liberdade, a democracia e o papel do homem neste contexto e que trouxe um contributo considerável à actividade literária nos Açores. Sem dúvida, um dos maiores poetas do arquipélago, tem colaboração dispersa por jornais e revistas nacionais e estrangeiras, bem como alguns poemas traduzidos para inglês e eslovaco. (...)”, consoante bem assinala E. Félix, na contracapa.
O poema foi reproduzido como constante no capítulo Ilha de Emoção do livro que tem por título “Na Distância deste Tempo”, p. 33, 2ª Edição Revista, Colecção Garajau (Série Especial), Edições Salamandra, 62 pp., Lisboa. Outubro de 2002, ISBN 972-689-212-0.
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Escritor e Poeta – nadirsdias@yahoo.com.br