Artimanhas
O trecho que cito abaixo faz parte de uma entrevista-conversa entre Guimarães Rosa e o crítico alemão Günter Lorenz. Foi registrada durante um congresso de escritores em Gênova. O ano? 1965. Quem se interessar pela texto completo, que é extraordinário, poderá lê-lo nas obras completas do Rosa.
A profecia lançada pelo autor de Grande Sertão, Veredas é o momento mais arriscado da conversa e onde se vê que Guimarães falou mais de seus desejos do que de realidades sensíveis às antenas dos profetas.
O mais curioso é ele não ter sequer mencionado os Estados Unidos, em 65 já um império. 40 anos depois de Gênova, a Europa está praticamente morta, os Estados Unidos e o capitalismo neo-liberal implantaram um neo-colonialismo baseado no fluxo de investimentos de curto prazo e o grosso do que se lê tem a ver com os norte-americanos.
A América Latina está embananada nesse neo-colonialismo e em suas próprias contradições. O futuro? Não se mostrou mais humano.
Recentemente, inclusive, um escritor francês escreveu como coisa normal que o diabo está exigindo sua parte, e que devemos aceitar as coisas como são!!!!
Se o conflito central de Riobaldo-Guimarães tratava justamente disso, o que terá cegado o nosso grande escritor? Talvez um desejo generoso e ingênuo.
"Se a Europa morresse, com ela morreria um pedaço de nós. Seria triste se em vez de vivermos juntos, tivéssemos de dizer uma oração fúnebre pela Europa. Estou firmemente convencido, e por isso estou falando com você, de que no ano 2000 a literatura mundial estará orientada para a América Latina; o papel que um dia desempenharam Berlim, Paris, Madri ou Roma, também Petersburgo ou Viena, será desempenhado pelo Rio, Bahia, Buenos Aires e México. O século do colonialismo terminou definitivamente. A América Latina inicia agora o seu futuro. Acredito que será um futuro muito interessante, e espero que seja um futuro humano."