O pensamento moderno de Benazir Bhutto
Os substantivos jihad e fataha são considerados palavras que remetem, para nós ocidentais, ao fanatismo religioso, aos extremistas e terroristas islâmicos que assolam e assustaram o Ocidente com seus ataques mortais. Contudo, sabemos que somos antagônicos a uma cultura desconhecida como é a islâmica e tendemos a ver os países muçulmanos como sinônimos de radicalismo ditatorial extremo.
O livro RECONCILIAÇÃO: ISLAMISMO, DEMOCRACIA E O OCIDENTE (Reconciliation:Islam, Democracy and the West, tradução de Alexandre Martins Morais, Agir, 320 páginas, R$ 34,90), escrito pela ex-primeira-ministra paquistanesa BENAZIR BHUTTO, possui diversas formas de interpretação para a caricatura construída pela mídia em relação a esses países. Aqui temos uma proposta de reconciliação entre religião e nações, um guia sobre a natureza do islamismo e os caminhos trilhados pelos seus seguidores ao longo dos séculos, um estudo sobre os conflitos internos e externos vividos na atualidade pelo mundo islâmico, mas principalmente, um apelo à paz.
Bhutto escreveu este livro nos últimos dias de sua vida, em meio ao caos político que vivia e vivenciava, após oito anos de exílio, em seu retorno a terra natal. Em prisão domiciliar, os originais forma encaminhados a editora na manha de 27 de dezembro de 2007, horas antes de seu assassinato, após setenta e um dias de dedicação em escrever esse testemunho de coragem, determinação e esperança.
Uma das maiores tragédias de nosso tempo, a morte dessa mulher corajosa e controversa, mas que figurou de certa forma, como uma verdadeira adepta da democracia e da liberdade política. Reconciliação é uma obra que dá luz a compreensão, ou como seu marido relata no posfácio do livro: “Este livro é sobre tudo o que aqueles que a mataram nunca conseguirão compreender: democracia, tolerância, racionalidade, esperança e, acima de tudo, a verdadeira mensagem do islamismo. Ou talvez eles compreendam essas coisas e as temas, e por isso temeram a ela. Ela era o pior pesadelo dos fanáticos” (página 303).
Expondo as principais interpretações erradas do Alcorão, a autora, mártir de sua luta e de seu pensamento, aborda as principais soluções para os problemas, usando os ensinamentos do Islã.
“Foi a tradição do islamismo que me permitiu lutar por direitos políticos e humanos (...) O islamismo denuncia a desingualdade como a maior forma de injustiça. Ele estimula seus adeptos a combater a opressão e a tirania. Estabelece a piedade como o único critério para avaliar a humanidade. Isso elimina raça, cor e gênero como base das distinções na sociedade”.
Uma ótima leitura para aqueles interessados na região e na atual situação política, e também para aqueles, que deseja obter uma visão da mente de uma das mulheres corajosos do mundo.