A Incrível Históra de Henry Sugar e Outros Contos

A Incrível História de Henry Sugar e Outros Contos (Ed. Martins Fontes), do escritor Roald Dahl com tradução de Waldéa Pereira Barcellos e ilustrações de Alexandre Camanho, é surpreendente e emocionante. Cada conto é mais interessante que o outro. A narrativa é rica e inusitada. No primeiro conto, temos um menino que fala com os animais e salva da morte uma tartaruga gigante. Logo depois, conhecemos um mágico de dedos ágeis que rouba as coisas das pessoas sem que elas sequer desconfiem.

Em sua jornada absolutamente empolgante, o autor relata a história do tesouro de Midenhall. Trata-se da descoberta de um tesouro de prata maciça do século IV d.C. Em um dos pratos enormes encontrados (o diâmetro era de uns bons sessenta centímetros!) R. Dahl descreve o objeto: "o grande prato era, sem dúvida, a mais bela peça. A cabeça no centro era de Netuno, o Deus do mar, com golfinhos no cabelo e algas na barba. Na larga borda do prato estavam Baco e seu séquito. Pã também estava ali, dançando com suas pernas de bode, as flautas nas mãos. E em toda parte havia bacantes, seguidoras de Baco, mulheres bastante embriagadas" (pg.87). Personagens absolutamente admiráveis como se estivessesm diante de nós, numa grtande tela de cinema, ou, para ser mais "contemporâneo", "num home theater".

Em sua saga maravilhosa, o autor nos brinda com a história do cisne. São dois garotos maus que perseguem um garoto bom, o "insubmisso" Peter. É uma história de grande sensibilidade, fantástica, da ordem do maravilhoso, do mágico, assim como classifica Propp, em sua Morfologia do Conto Maravilhoso.

O conto de Henry Sugar, que parece ser o principal do livro, relata a trajetória de um homem rico e frívolo que "adquire a capacidade de ver através das cartas do baralho". Assim, ganha milhões de dólares e a partir de um grande acaso, acaba por descobrir a verdadeira utilidade do dinheiro. Essa história mescla elementos da cultura indiana e britânica e o resultado são homens que andam sobre brasas incandescents, engolidores de fogo, um homem que não precisa dos olhos para enxergar e um outro que chega da sacada de sua varanda , no coração de Londres, e joga dinheiro para as pessoas. Esse relato faz com que o leitor repense sua própria vida e seus próprios valoes; não há como passar incólume.

No penúltimo conto, o autor descreve como se tornou escritor e dá "dicas" do seu processo de criação. No último, escreve como se lançou na mundo das Letras de forma absolutamente inusitada, pois seu boletim da escola continha avaliaçõs com o seguint teor: "Nunca vi um aluno tão persistente em escrever exatamente o contrário do que quer dizer. Esse aluno é um integrante indolente e analfabeto da turma. Ele me lembra um camelo" (pg. 233). Mostra também o conto que o projetou como um grande escritor de ficção !

Henry Sugar é um livro comovente e admirável ! Muitas vezes, durante a leitura, relutei em virar as paginas para que ele nao terminasse !

UFF - 2004