Triste fim de Policarpo Quaresma

BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma / Lima Barreto. -5ª. Ed.. –São Paulo: FTD, 1998. – (Coleção Grandes Leituras)

Afonso Henrique de Lima Barreto nasceu no dia 13 de maio de 1881, no Rio de Janeiro. Em 1887 inicia seus estudos na escola pública. Depois de passar pelo curso primário, transfere-se para o Ginásio Nacional e finalmente conclui, no Colégio Paula de Freitas, os preparatórios para o ensino superior. Mais tarde ingressa na Escola Politécnica. Cinco anos depois, começa a colaborar em A Lanterna, “órgão oficioso da mocidade das escolas superiores”. Abandona a Escola Politécnica e ingressa como amanuense na Secretaria de Guerra. Faz colaborações em Quinzena Alegre, O Diabo e O Pau e se torna secretário da Revista da Época. Ingressou no jornalismo profissional em 1905. Daí, com o objetivo de defender os novos talentos na Literatura, fundou a Revista Floreal e, só em 1909 estréia na Literatura, publicando Recordações do Escrivão Isaías Caminha, romance. Começa a publicar em folhetins, Triste Fim de Policarpo Quaresma, romance. É recolhido ao hospício duas vezes. Nesse espaço de tempo cria outras obras. Lima Barreto faleceu em 1º de novembro de 1922, no Rio de Janeiro.

O livro traz a história de Policarpo Quaresma, um Major patriota, visionário e ingênuo, que mora no subúrbio do Rio de Janeiro com sua irmã Adelaide e trabalha como subsecretário no Arsenal de Guerra. Ele dedicou a sua vida em estudar a pátria: a geografia, a história, a cultura e os costumes do Brasil. Seu patriotismo era tamanho, que ele enviou um requerimento ao Congresso Nacional pedindo a mudança no idioma oficial do país, de Português para o Tupi, língua a qual ele afirmava ser pura e original do próprio Brasil, ao contrário do Português, língua “emprestada” a nós. Essa idéia não foi bem aceita pela sociedade. Quaresma foi muito criticado e se tornou alvo de riso e de piadas da imprensa, a qual chegou a dizer até que ele era um maluco nacionalista que nem sabia falar o idioma dos tupinambás e queria-o. Ele achou um absurdo pois sabia sim a outra língua e, querendo provar isso, acabou escrevendo no seu trabalho, por engano, um oficio em Tupi. Fora suspenso do serviço, declarado louco e levado ao hospício. Quaresma era entendido apenas por Olga, sua afilhada, que junto com o seu pai, o visitou muito quando esteve no manicômio.

Ao se recuperar, Policarpo volta pra casa e em mais um dos seus surtos patrióticos, aproveitando-se de uma sugestão de Olga, resolve se mudar para o campo a fim de plantar, no intuito de mostrar que o solo brasileiro é o mais rico e mais fértil. Mas toda a sua empolgação acabou quando ele percebeu que seu lucro foi baixo, pois o solo não era fértil como pensava, e quando uma praga de formigas destruiu grande parte de sua plantação.

Arrasado, Quaresma retorna ao subúrbio do Rio de Janeiro. É neste espaço de tempo que estoura a Revolta da Armada, e ele, como um verdadeiro patriota, oferece seus serviços a Floriano Peixoto, assumindo o posto de Major no batalhão Cruzeiro do Sul. Após o fim da revolta, Policarpo passa a ser carcereiro dos revoltosos na Ilha das Enxadas. Lá presencia um oficial recolhendo alguns presos para serem executados. Ele então, revoltado com aquilo que viu, escreveu uma carta ao presidente, protestando. No dia seguinte é preso e condenado a morte por fuzilamento.

Triste Fim de Policarpo Quaresma pode ser classificado como uma grande crônica, pois Lima Barreto, seu autor, une humor, fatos e problemas sociais numa mesma obra. A história é narrada na terceira pessoa, porém, com o autor às vezes se intervindo no texto e se tornando narrador personagem, tudo isso em tempo cronológico. Lima Barreto faz severas críticas à sociedade brasileira da época do Marechal Floriano Peixoto. Essa exposição crítica da vida política, social e cultural do Brasil, feita através de uma linguagem inconformista, aborda temas importantíssimos e que, inclusive, se assemelha muito ao Brasil atual, como a fraca condição dos intelectuais, inferiores aos modelos europeus; o preconceito com os negros e com o violão (objeto marginalizado na época); o militarismo prejudicial; a fragilidade da economia do país, onde até a agricultura está abandonada; a crueldade da vida nos hospícios; e até mesmo a condição da mulher naquele momento, em que o escritor deixa transparecer, em relação a este último, que as mulheres eram criadas com apenas um objetivo: casar-se.

Quanto a Quaresma, seu maior “erro” foi amar demais a pátria, buscando uma emancipação e identidade do povo brasileiro, talvez sem saber que isto era uma utopia. Ele valorizava muito o que era nacional como a língua Tupi, o violão (quebrando as barreiras do preconceito) e outros elementos da cultura popular. Mas suas idéias se contrastavam com a dura realidade. Era impossível a construção do Brasil ideal. Por isso, visto que Lima Barreto critica austeramente no decorrer da leitura suas personagens, com Policarpo não poderia ser diferente. Ele o chama de ingênuo e imaturo. Hoje, também existem pessoas que amam e lutam pela pátria, defendendo intensamente o país em qualquer ocasião, porém essas precisam abrir os olhos e reconhecer que a chave para um país melhor é a resolução dos vários problemas existentes nele. E mesmo assim, provavelmente, não encontrarão o Brasil perfeito.

Bertoldo Gabriel
Enviado por Bertoldo Gabriel em 20/08/2008
Reeditado em 28/08/2011
Código do texto: T1137497
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