FORMA & ALUMBRAMENTO – POÉTICA E POESIA EM MANUEL BANDEIRA (Ruy Espinheira Fº)

Partindo do pressuposto de que Manuel Bandeira foi o maior poeta lírico do séc. XX, Ruy Espinheira Filho especifica nesta obra “Forma & Alumbramento – Poética e Poesia em Manuel Bandeira” um rico tecido sobre o fazer poético do autor de Libertinagem, e constrói um grande painel sobre sua técnica elaboradíssima, o culto pela forma, o êxtase(alumbramento) lírico, e o profundo conhecimento que tinha do fazer literário. Fato esse confirmado quando observada sua vastíssima correspondência – em especial com Mário de Andrade -, o melhor compêndio epistolar já catalogado no Brasil.

A paisagem cronológica do poeta Manuel Bandeira, nos informa Ruy Espinheira Filho, é feita a partir de um dado contrário: a tísica(tuberculose) o abraçou no fim da adolescência, abortando seu sonho de ser arquiteto. À procura de um lugar e clima ideais, no qual pudesse se tratar, morou em diversos lugares do Brasil e na Suíça. Esse “gosto amargo da morte sempre próxima” influenciou profundamento sua artesania poética, que foi observado meticulosamente por Mário de Andrade(e aceito por Bandeira). Com o passar dos anos e a melhora na saúde, e a experiência literária adquirida, o poeta então “soltou suas rédeas” em sua luta incessante por uma poesia em estado puro, mas livre, em versos brancos(sem rimas aparentes), e desmetrificados(sem a contagem tonal das sílabas).

O 1º cap. do livro, “Fatalidade, inspiração e verso livre”, fala do modus operandi de Bandeira ao confeccionar seus escritos, sempre com um olho certeiro sobre as imposições que a vida lhe impunha, e como ele “poetizava” esse alumbramento, ao mesmo tempo que tecia uma lúcida interpretação da poesia feita por outros.

“Influência e Artes Poéticas”, o título do cap. 2, traça um extenso painel daqueles que influenciaram a sua formação e artesanato literário. Ruy Espinheira Filho aqui comete um deslize, ao passionalizar(tentando racionalizar) inflando o estudo que Bandeira, Mário de Andrade, Drummond e João Cabral de Melo Neto fizeram sobre os poetas parnasianos(pg. 92), a geração de 45 e os concretos(pg. 92 a 95).

Depois temos “A Poesia em Tudo”, capítulo daquilo que seria o objeto de estudo in loco de MB: TUDO. Isso dentro de um filtro que tratam de 'tema' e 'assunto', assuntos caros a MB, para aprofundar-se nos elementos essenciais de seu labor: ritmo, versos e humanidade. “Poéticas Revolucionárias” trata daquilo que Bandeira leu, interpretou, somou, aprendeu e apreendeu das escolas literárias, delas extraindo todo o sumo, que iria formatar sua poesia e formar o seu entendimento artístico, dentro de um contexto e observação muito críticos.

Logo após vem “Um Diálogo de 22 anos”, quinto cap., que trata da farta correspondência que MB trocou com Mário de Andrade. O abraço amigo, a crítica veraz esmurrada com 'luvas de pelica', construção poética em ambos(e outros), concepção artística que se definiria nos dois(e daí irradiando-se para todas as gerações poosteriores no Brasil), as congruências(e divergências) de posturas e pensamentos, a informalidade; está tudo lá, estudado nas conversas 'de pijama' entre ambos.

(José Olympio Editora - 240 pg. - ISBN 85—03-00817-3)