Você está Louco

Este texto não é exatamente uma resenha, pois contém opiniões pessoais. Fiquei fascinada pelo modelo de administração do empresário Ricardo Semler, autor do livro, que não poderia simplesmente fazer uma resenha do modelo convencional.

Espero que meu "resumo" possa ajudar alguém.

Ricardo Semler

Você deve estar louco!

Uma vida administrada

De outra forma

Esse livro é uma leitura fascinante, tanto pelo fato de ser parcialmente auto-biográfico, pois seu autor – Ricardo Semler – é uma pessoa extraordinária e ímpar, em suas ideologias sobre nossa presença, função e missão nesse planeta e também pela inovação nos métodos administrativos adotados em suas empresas.

Aos 22 anos, assumiu a SEMCO, uma indústria de turbinas para navios, que tinha um sistema de administração conservador, do tipo “manda quem pode obedece quem tem juízo”, como, aliás, a maioria de inúmeras outras.

Ricardo começou inovando com a “Gestão Participativa”, um sistema democrático de gestão, onde todas as áreas da empresa tem participação ativa de fato e representatividade no conselho administrativo e votam sobre decisões de grande importância. Na SEMCO, tanto os “engravatados” como os homens de macacão, sentam-se à mesa para reuniões e todos são respeitados igualitariamente.

Outro diferencial são horários alternativos, pois uma pessoa não tem que ficar horas no trânsito, ou se optar, pode folgar no meio da semana. Também existem redes espalhadas por toda a fábrica, destinadas ao ócio, pois segundo Semler, é durante os períodos de ócio que meditamos e temos as melhores idéias, sobre nós mesmos, nossa família, trabalho, etc...

No galpão, onde em todas as outras fábricas têm máquinas de cor verde ou cinza, chão de cor nenhuma e paredes normalmente empoeiradas, na SEMCO, cada operador de máquina pintou a sua da cor que preferiu, além é claro, de cada setor ter na parede a cor que a maioria escolheu. Entrar lá dá mais prazer aos operários, a quem visita, além de ter resultado em economia, pois o colaborador passou a cuidar melhor da sua máquina de trabalho, mantendo-a em bom funcionamento e sempre limpa e bem cuidada.

Os balanços da empresa são divulgados e foi criado uma cartilha que todos, sem exceção pudessem entendê-la, dessa forma, todos acompanham o crescimento, bem como algum problema pelo qual a empresa esteja passando, de maneira transparente. Ricardo considera importante que todos saibam como a empresa ganha dinheiro.

Criou também o “Redondograma”, pois o formato de pirâmide administrativa, dá poder a quem ocupa o topo, e somente funciona se o sistema incluir penalidades. Já no “Redondograma”, o poder é o do respeito natural, que é uma questão técnica ou moral e não necessariamente por liderança. Poder e informações em qualquer organização andam juntos. Nesse novo modelo, todos tem a informação, não existem dados confidenciais. A lideranças existem sim, mas são escolhidas por votos, pelos que serão liderados de maneira transparente.

Criou os “Guardiões da Cultura”, que são centenas e tem dois assentos no Conselho Executivo da SEMCO; os “Átomos”, grupos pequenos onde todos sabem o que fazem os “átomos”.

Existe um sistema apelidado de “barômetro”, que mede mensalmente os indicadores normais e também valores imensuráveis: intuição e pesquisas profundas junto aos clientes, fornecedores e internamente junto aos colaboradores.

Em 2005 nasceu o programa “Aposente-se um pouco da Semco” resultado de uma avaliação da maneira “estúpida” de distribuir a vida. “...Tem-se pouco dinheiro, depois o teto durante o auge do trabalho, e depois, no fim da vida, pouco novamente.” ...”Tem-se muito tempo na infância – mesmo com a escola -, depois cada vez menos e, depois da aposentadoria, tempo demais.” “...veremos que temos dinheiro quando não temos tempo para usufruí-lo, tempo quando não temos mais dinheiro seguro, e a possibilidade de gozar da natureza e dos esportes quando não temos mais saúde para tanto. (Pág. 154, parágrafos 4º e 5º)

A SEMCO não faz auditoria!!!!!

A Fundação SEMCO criou a Escola Lumiar, que realmente educa as crianças, preocupa-se com os talentos natos delas e desenvolve outros, respeitando e despertando o interesse da criança por determinados assuntos.

O Instituto DNA Brasil, que estuda e debate a real vocação dos brasileiros e nossos potenciais, em 2005 numa “Carta dos brasileiros aos brasileiros” elaborada no 2º DNA Brasil, em Campos do Jordão, abordou a questão:

“- Somos corruptos ou estamos corruptos?”

O Habitat dos Mellos, que além de discutir questões antropológicas e dúvidas existenciais, reproduz num micro ambiente, o que seria o 1º Mundo para os brasileiros.

Para criar empregos e tornar o projeto auto sustentável, fundou o Hotel Botanique, em Campos do Jordão, de alto padrão – “luxo à brasileira”, pois toda a decoração é original do nosso país e reflete nossa cultura.

Ricardo Semler dá aula quase todas às sextas-feiras em uma escola Rural, na Serra da Mantiqueira, que a Lumiar assumiu a administração e a parte pedagógica. Faz parte do Conselho da SOS Mata Atlântica, dá palestras pelo mundo inteiro e já fez várias viagens por locais inóspitos do planeta em busca de conhecimento cultural, meditação e sabedoria espiritual.

Quando esse livro foi escrito em 2005, 216 universidades estudavam a SEMCO, já haviam 16 teses de mestrado, 6 de doutorado sobre os conceitos de gestão da SEMCO.

Segue abaixo, algumas citações do autor, que não pude me furtar de repetir:

Pág. 82 – 4º parágrafo:

“... você tem que produzir algo que você mesmo queira comprar. Depois disso, não há nada a fazer, - a não ser deixar o cosmos agir – como ensinou Goethe, com sua idéia de que o universo conspira a favor de alguém perseverante.

Pág 87 – 5º parágrafo:

“Percebi que era hora de parar. Continuar a surfar aquela onda seria apenas exercício de vaidade. Era 1989, e em breve o país viveria o fenômeno Collor e entenderia como é fácil se deixar enganar por fraudes carismáticas.” Sobre o sucesso de suas palestras.

Págs. 89 à 92 – todos parágrafos:

Sobre sua experiência em um programa na Rádio Eldorado, de entrevistas ao vivo.

Pág. 100 – 1º e 2º parágrafo:

“Talvez por isso sempre tive propensão a procurar mosteiros em viagens, com a perene sensação de que já vivi num deles. Quando entro em mosteiros, sinto-me em casa no silêncio e na introspecção, apesar de ser um estranho naqueles ninhos. Remete a algo que não identifico – e não é tão simples quanto clichês de vidas passadas.

Aliás, esse é um ramo que se presta a todas as interpretações possíveis, aproveitando-se da insegurança que a humanidade carrega dentro de si. É curioso como a maioria dos exercícios de regressão a vidas passadas deságuam em descobertas de que a pessoa foi cavaleiro templário ou uma princesa indiana, nunca um camponês miserável ou uma prostituta asiática.”

Pág. 115 – 4º parágrafo:

“Enxerga-se muito a questão da democracia como sendo um conceito ideológico, um valor em si. Mas a democracia para nós é também um mecanismo, um instrumento. O que queremos, afinal, não é simplesmente ter uma empresa democrática. De pouco nos adiantaria uma democracia do trabalho, resultando num fracasso financeiro. Mas também um sucesso que usasse a mão-de-obra como simples instrumento que enriquecesse apenas os acionistas também não nos parecia competitivo e sustentável. Não coloco aqui questões morais, dizendo que a falta de democracia não seria justa ou ética. Estou afirmando que é também melhor negócio e maior fonte de gratificação”.

Pág. 153 – 1º e 2º parágrafos:

...”O empresário se vê muito passivo em relação às mudanças da sociedade como um todo. É reativo e nunca agente de mudança social. O que é uma pena e desnecessário. É por isso que os sindicatos foram agentes de progresso, enquanto os empresários foram os czares Nicolai e os reis Sol da história, resistindo ao avanço da plebe em seus palácios fortificados. Quase sempre isso termina com a oferta de brioches às multidões.

Os brioches têm vindo em forma de consciência ambiental, com educação, responsabilidade social e inúmeras outras pseudopreocupações. As empresas brincam disso quando necessário e os marqueteiros são rápidos em incorporar esses conceitos de modo superficial, sem qualquer interesse mais profundo nas questões. Brioches mornos.”

Pág 251 – 3º parágrafo:

“...sabemos apenas a nossa competência em fazer um produto ou prestar um serviço de qualidade certa ao preço certo é que dá emprego. O resto é discurso vazio...”

pág 252 – 4º parágrafo:

“...Se fosse possível medir felicidade, o mecanismo de um mundo movido a dinheiro seria revisto.”

Conclusão:

É um “pecado capital” (rs...) resumir um livro que narra tantas experiências, novos conceitos e visão futurista como o “Você está louco!”

Dalva Marisi Gallo
Enviado por Dalva Marisi Gallo em 12/08/2008
Reeditado em 12/08/2008
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