Bisa Bia, Bisa Bel
Apresentação:
A narrativa ocorre do ponto-de-vista da narradora-protagonista, a pré-adolescente Isabel Miranda. Menina de classe média, com seus dez anos, ela discorre sobre o seu mundo: o lar, a escola, os amigos, as travessuras. A mãe, a "bisavó" e a "neta", além da professora Sonia, procuram compreendê-la e auxiliá-la nessa travessia para a puberdade.
Abordagem crítica:
Os doces segredos afloram suavemente, num relato comovente, fluindo em reflexões feitas de ternura, surpresas e lembranças. Sem sombras sequer de pieguices.
A sua nem-sonhada bisavó vira personagem do cotidiano, através de um retrato antigo, que a menina leva para a escola, os passeios, brincadeiras de rua e inesperados diálogos íntimos.
A garota redescobre e recupera o passado, redimensiona o futuro e aprende a conviver consigo mesma, no presente. Sem sair do presente.
O tempo, que promove o encontro das gerações, simboliza um desfile de descobertas, unindo passado/presente/futuro em experiências, conflitos, renúncias, conquistas e amadurecimento.
Ouvindo fadas...
Em "Bisa", as vozes do exílio, da utopia e do imaginário discutem, com tênue delicadeza, os comportamentos, as questões existenciais, os ritos de passagem de menina a moça --- tudo isto envolto em intenso e imenso clima lírico. Auroras que desabrocham, acordadas por múltiplas vozes interiores.
Fantasia e realidade, sonho e terra firme, ficção e não-ficção dialogam continuamente em "Bisa", questionando os papéis sociais, os hábitos, costumes e valores --- tanto ideais quanto os já vigentes.
Escritura ou relação forma-conteúdo:
Total ausência de desvios da norma culta, de lugares-comuns ou fraqueza narrativa. Uma linguagem construída sem beletrismo, rebuscamentos, tropeços ou armadilhas estilísticas. Todavia com rigoroso cuidado linguístico, ênfase e sensibilidade artística. O monumento da fala sobre o pedestal da língua. Numa palavra: canônica.
O livro, obra maior de uma das nossas escritoras essenciais, chegou sem dúvida para ficar, refulgir e encantar.
Entretanto...
O leitor crítico adora perder uma chance de ficar calado. Então, falamos: há nessa diminuta novela milhares, talvez milhões de verbos 'ter'. Igualmente, disputam os nossos olhos outros milhões de 'ser'. Afora os infinitos 'estar'... Que empobrecimento ilícito!
E, mais para o final, uma ou duas cenas nojentas, de limpar-o-nariz-sem-lenço e gozações a respeito... Que lixo!
Aspectos técnicos:
As ilustrações de Regina Yolanda não correspondem, em beleza e qualidade, a esta história tão singela. Trata-se de desenhos desleixados, sem originalidade e mal-feitos (referimo-nos às figuras humanas).
Bons, o tamanho dos tipos e a qualidade da impressão. Revisão técnica caprichada. Capa muito bonita.
Bisa Bia, Bisa Bel (novela), de Ana Maria
Machado. Capa: Luiz Fernando Rudio.
Ilustrações: Regina Yolanda. 56p., 36ª
ed. RJ, Salamandra, 1998.
@
Trabalho feito por Jô para o Curso de Pós-Graduação em Literatura Infantil e Juvenil – UFRJ.
Módulo: "O Cânone Contemporâneo", ministrado pela Profª Drª Ana Crelia Dias.
Apresentação:
A narrativa ocorre do ponto-de-vista da narradora-protagonista, a pré-adolescente Isabel Miranda. Menina de classe média, com seus dez anos, ela discorre sobre o seu mundo: o lar, a escola, os amigos, as travessuras. A mãe, a "bisavó" e a "neta", além da professora Sonia, procuram compreendê-la e auxiliá-la nessa travessia para a puberdade.
Abordagem crítica:
Os doces segredos afloram suavemente, num relato comovente, fluindo em reflexões feitas de ternura, surpresas e lembranças. Sem sombras sequer de pieguices.
A sua nem-sonhada bisavó vira personagem do cotidiano, através de um retrato antigo, que a menina leva para a escola, os passeios, brincadeiras de rua e inesperados diálogos íntimos.
A garota redescobre e recupera o passado, redimensiona o futuro e aprende a conviver consigo mesma, no presente. Sem sair do presente.
O tempo, que promove o encontro das gerações, simboliza um desfile de descobertas, unindo passado/presente/futuro em experiências, conflitos, renúncias, conquistas e amadurecimento.
Ouvindo fadas...
Em "Bisa", as vozes do exílio, da utopia e do imaginário discutem, com tênue delicadeza, os comportamentos, as questões existenciais, os ritos de passagem de menina a moça --- tudo isto envolto em intenso e imenso clima lírico. Auroras que desabrocham, acordadas por múltiplas vozes interiores.
Fantasia e realidade, sonho e terra firme, ficção e não-ficção dialogam continuamente em "Bisa", questionando os papéis sociais, os hábitos, costumes e valores --- tanto ideais quanto os já vigentes.
Escritura ou relação forma-conteúdo:
Total ausência de desvios da norma culta, de lugares-comuns ou fraqueza narrativa. Uma linguagem construída sem beletrismo, rebuscamentos, tropeços ou armadilhas estilísticas. Todavia com rigoroso cuidado linguístico, ênfase e sensibilidade artística. O monumento da fala sobre o pedestal da língua. Numa palavra: canônica.
O livro, obra maior de uma das nossas escritoras essenciais, chegou sem dúvida para ficar, refulgir e encantar.
Entretanto...
O leitor crítico adora perder uma chance de ficar calado. Então, falamos: há nessa diminuta novela milhares, talvez milhões de verbos 'ter'. Igualmente, disputam os nossos olhos outros milhões de 'ser'. Afora os infinitos 'estar'... Que empobrecimento ilícito!
E, mais para o final, uma ou duas cenas nojentas, de limpar-o-nariz-sem-lenço e gozações a respeito... Que lixo!
Aspectos técnicos:
As ilustrações de Regina Yolanda não correspondem, em beleza e qualidade, a esta história tão singela. Trata-se de desenhos desleixados, sem originalidade e mal-feitos (referimo-nos às figuras humanas).
Bons, o tamanho dos tipos e a qualidade da impressão. Revisão técnica caprichada. Capa muito bonita.
Bisa Bia, Bisa Bel (novela), de Ana Maria
Machado. Capa: Luiz Fernando Rudio.
Ilustrações: Regina Yolanda. 56p., 36ª
ed. RJ, Salamandra, 1998.
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Trabalho feito por Jô para o Curso de Pós-Graduação em Literatura Infantil e Juvenil – UFRJ.
Módulo: "O Cânone Contemporâneo", ministrado pela Profª Drª Ana Crelia Dias.