A METAMORFOSE, de Franz Kafka (adaptação de Peter Kuper)

O tcheco Franz Kafka (1883-1924) é considerado um dos grandes escritores do século XX, apesar de ter vendido poucos livros em vida e morrer sem ser devidamente reconhecido. Morreu aos 40 anos de idade, de insuficiência cardíaca, enquanto internado em um sanatório para curar-se da tuberculose.

As histórias de Kafka remetem a situações em que os protagonistas vivem um pesadelo, geralmente fantástico, e pouco parecem se importar com isto. Kafka mistura influências judia, tcheca e alemã, permeando os seus escritos com os sentimentos de culpa, impotência e injustiça.

A Metamorfose é uma de suas obras-primas mais conhecidas. O caixeiro-viajante Gregor Samsa acorda uma manhã como um inseto gigante. Sem buscar explicações lógicas, tanto o autor quanto Gregor e a sua família tentam readaptar suas rotinas conforme a nova situação. Não tanto por um membro da família agora ser um inseto, mas pelo provedor do sustento estar impossibilitado de trabalhar. Várias nuances psicológicas podem ser levantadas (e aplicadas em nossos dias), como a falta de comunicação entre os membros da família, o interesse egoísta em uns se aproveitarem da boa vontade de outros, etc. A preocupação de Gregor com o seu emprego e com o que os outros vão pensar de sua ausência ao invés de se preocupar com a sua estranha mutação chega a ser cômica. Mas a mensagem está dada, a metamorfose de Gregor ocasionou a de todos à sua volta. Vale a pena refletir como isso se aplica em nosso caso.

Peter Kuper é desenhista norte-americano famoso pelas tiras Spy vs. Spy. Já ilustrou outra HQ (História em Quadrinhos) baseada nas obras de Kafka, Desista! (Conrad, 2008) onde são reunidos nove contos do autor tcheco. O seu estilo crítico em preto-e-branco dá um ar ao mesmo tempo sombrio e cult, deixando no leitor o sentimento exato que Kafka quis passar.

A adaptação de A Metamorfose por Peter Kuper é excelente, de leitura rápida, com os devidos méritos próprios. Imagine recontar uma história clássica e ao mesmo tempo dar o tom de crítica atual. Ná página 14, por exemplo, onde Gregor reclama que "É sempre a mesma história, dia após dia... Comendo coisas horrorosas pelo caminho", Kuper desenha sutilmente o protagonista comendo um hambúrguer com dois arcos em forma de M no fundo. Mais crítico, nem desenhando.

Retirado de www.jefferson.blog.br