DISCWORLD (vol. 1): A COR DA MAGIA, de Terry Pratchett

Vários são os autores que conseguem criar não somente histórias, mas universos inteiros tanto ou até mais interessantes do que aquele no qual vivemos. Acrescente aos já conhecidos C.S. Lewis (As Crônicas de Nárnia), J.R.R. Tolkien (O Senhor dos Anéis) e J.K. Rowling (Harry Potter), o britânico Terry Pratchett, autor da série Discworld, composta atualmente de nada mais nada menos que trinta e cinco (uau!) volumes publicados, e com outros – não pergunte quantos - ainda por vir. No Brasil, a Conrad Editora já publicou os onze primeiros volumes. Os fãs da série agradecem e torcem para que a publicação continue avançando gradativamente até alcançar, quem sabe, lançamentos simultâneos. Mas para que isso ocorra, será necessário primeiro que o público brasileiro se interesse um pouco mais pela obra e pelo autor.

O toque de gênio que diferencia Pratchett dos demais criadores de universos paralelos é que ele usa e abusa de personagens, criaturas, lugares e mitos que todos conhecemos desde pequenos, mas com um peculiar ponto de vista bem humorado e carregado de pitadas de humor negro.

Em A Cor da Magia, são encontradas várias referências invertidas explicita e propositadamente a personagens e histórias de outros escritores, tantas que nem me atrevo a listá-las, mas com certeza você ficará com aquela sensação de que alguma coisa do que você está lendo está guardado lá no fundo do baú de sua memória.

A própria geografia do disco já daria um volumoso Atlas, com a região da borda, a Cercaferência, e suas muitas ilhas, bastante próxima ao abismo onde deságua o Discworld, e a região central, onde os deuses habitam no cume das mais elevadas montanhas.

Imagine um mundo plano, um disco, sustentado em cima de quatro elefantes gigantes, que por sua vez estão sobre uma tartaruga mais gigante ainda e que nada tranqüila na imensidão do cosmos. Maluquice? É, pode até parecer. Mas você sabia que era desse jeito que muitos homens acreditavam que a Terra era até pouco tempo atrás? Pratchett aproveitou-se de mitos e lendas já existentes e que segundo ele “estavam rodando por aí e não pareciam ter dono” para criar suas histórias e assim criticar de forma divertida alguns dos costumes modernos. Tanto é que nada parece escapar ao seu humor ácido, desde turistas, economia, companhias de seguros, até a tecnologia, entre outros.

Imagine um mago que aprendeu somente um feitiço, mas que nunca o usou, pois além de não saber o que o feitiço faz, tem medo das conseqüências. Ou um viajante que sempre se mete em problemas, sendo seguido de perto por sua bagagem que possui cerca de cem perninhas. Ou heróis míticos que aparentam ser tão destemidos quanto burros. Ou “O” Morte, personagem impagável que aparece vestido a caráter com sua grande foice justamente em horas (im)próprias, fazendo comentários sarcásticos para desanimar quaisquer tentativas de sobrevivência. Imagine deuses que apostam com os destinos dos personagens mortais como em um jogo de tabuleiro. Ou uma montanha de cabeça para baixo, habitada por dragões invisíveis e um povo que caminha no teto. Ou uma espada falante que não cala a boca nunca. Ou pense que a preocupação dos maiores magos e estudiosos de Discworld está em conhecer o sexo da tartaruga gigante que sustenta o disco.

Há escolas para magos, números mágicos, madeiras mágicas, lugares mágicos e até uma cor mágica, a octarina. E há mais ainda: sindicatos de criminosos, governantes inescrupulosos, magos, monstros, dragões, trolls, superstições, vilões-heróis, vilões-vilões, fantasmas, duelos, princesas, castelos, cavernas, enfim, um universo inteiro à sua espera, capaz de entreter, divertir e satisfazer aos mais exigentes leitores das fábulas fantásticas. Apesar de não me identificar muito com o senso de humor britânico, recomendo o livro por apresentar um tipo de humor não só universal, mas também atemporal.

Retirado de www.jefferson.blog.br