O VESTIDO
Direção: Paulo Thiago.
Elenco: Gabriela Duarte, Ana Beatriz Nogueira, Leonardo Vieira, Daniel Dantas, Paulo José.
Origem/Ano de produção: Brasil/2003.
Duração: 121 min.
Um ótimo programa para o seu próximo final de semana é alugar o filme O VESTIDO, do diretor Paulo Thiago. Produzido em 2003, O longa é baseado no poema de Carlos Drummond de Andrade, "Caso do vestido", da última safra do nosso poeta maior, poucos anos antes do seu falecimento. Se você acha estranho que um poema tenha se transformado em filme, saiba que não foi tarefa fácil para o diretor Paulo Thiago e o roteirista Haroldo Marinho. Por se tratar de linguagens bem distintas, foi necessário que se criassem "pontes" de ligações que pudessem transformar versos em imagens de uma forma coerente e verossímil, o que foi conseguido até com bastante dignidade pelo diretor. Evidentemente aconteceram falhas, sendo a principal delas as duas longas horas de projeção. Tivesse meia hora de menos, e teríamos uma obra-prima. Mas de qualquer forma, o filme é uma boa opção para quem gosta de cinema brasileiro.
Duas irmãs encontram um antigo vestido da mãe no porão da casa e passam a indagar o que teria acontecido anos atrás para provocar a separação dos pais. Ângela (Ana Beatriz Nogueira), mãe dedicada e esposa fiel, passa a relatar para as meninas como perdeu seu marido Ulisses (Leonardo Vieira) para a aventureira Bárbara (Gabriela Duarte), e qual a importância do vestido para a trama.
À partir daí, desfilam pela tela personagens inesquecíveis. A Bárbara de Gabriela Duarte, no início uma mulher fatal, interessada apenas em destruir o casamento perfeito entre Ângela e Ulisses, parece adquirir outras nuances no decorrer da história, até se transformar no clássico caso do feitiço virar contra o feiticeiro. Já o marido, homem íntegro e apaixonado pela esposa, perde totalmente o controle diante da sedução irresistível que Bárbara representa para ele, sempre tão centrado entre os deveres familiares e o trabalho honesto, que, afinal, não o leva a viver a vida que ele sonha para si. Para complicar a situação, Fausto (Daniel Dantas), amigo de Ulisses, se revela um antigo amor de Ângela, e faz de tudo para reconquistar a dona de casa. Está armado então o quadrilátero amoroso que sustentará a narrativa até a sua metade, quando ocorre a primeira reviravolta do roteiro. Aliás, as situações dessa primeira parte do filme são as mais interessantes, culminando com a bizarra proposta que Bárbara faz para consentir em dormir com Ulisses.
O diretor Paulo Thiago disse, à época do lançamento, que o tom quase teatral do filme era de propósito, pois a sua real intenção foi fazer um melodrama. Cabe aqui dizer que Drummond não é o único citado em O VESTIDO. Pelos 121 minutos da película, desfilam citações do Barão de Itararé, Anselmo Duarte, Machado de Assis e outras sumidades do mundo das artes, compondo um mosaico bastante abrangente, apesar de um pouco artificial, já que na vida real ninguém anda por aí recitando poesia e literatura no seu dia a dia como se isso fosse coisa comum.
O papel de Bárbara deu a Gabriela Duarte o prêmio de melhor atriz no festival Ibero-americano de Huelva em 2003, mas para a platéia quem brilha mesmo é a atriz Ana Beatriz Nogueira. Existe uma identificação do público com a esposa sofredora que nunca deixa de acreditar na vitória do amor sobre a paixão e a loucura, e talvez esse seja o grande trunfo do filme: o amor que tudo suporta, tudo padece, mas que no final é redimido e perdoa todos as ofensas e humilhações. Não há como não gostar desse simpático filme. Alugue e confira como um poema pode se transformar em imagens sem perder a ternura...
COTAÇÃO: BOM
Resenha crítica publicada no site Cranik, do qual o autor é crítico de cinema. Para ver mais de 200 resenhas de filmes variados, acesse www.cranik.com