NO COUNTRY FOR OLD MEN

NO COUNTRY FOR OLD MEN

Eugenio Malta

O filme levou, nos Estados Unidos, o mesmo titulo do livro.

No Brasil, infelizmente, a traducao do titulo e’ ridicula: “ Onde os Fracos Nao Tem Vez”. Obviamente, e’ um titulo/traducao feita por incompetentes ou interessados apenas em vender o “heroi” e a violencia tida como tipica do velho oeste hollywoodiano. Mas, a insercao desta falsa evocao aos fortes nao e’ verdadeira nem quanto ao heroi epico do lengedario oeste americano e, nem e’ fiel a tematica do filme, do livro, da linguagem corrente atual e passada naquela regiao fronteirica entre o Mexico e Texas. A traducao brasileira do titulo ( diria, do nome ) e’ inferior a de Portugal: “Este Pais Nao e’ para Velhos “ a qual aproxima mais de uma traducao literal, deixando escapar tambem a essencia melancolica e ironica contida no titulo do original: “ No Country For Old Men “.

Na historia criada por Cormac McCarthy em 2005, uma geracao de 60 anos esta’ em 1980, em pleno Texas, vivendo uma discrepancia de interesses bem diferentes dos do velho oeste. O Texas, onde inumeras historias de cowboys, indios, mineiros e a cavalaria do governo americano fizeram a gloria de hollywood e encantaram o mundo inteiro, ja’ nao tem mais vez. McCarthy inicia com uma especie de lembrancas em monologo na voz do sheriff Bell:

VOICE OVER / Voz de Fundo: “I was sheriff of this county when I was twenty-five./Eu era sherife desta jurisdicao quando tinha vinte e cinco anos.//Hard to believe./Dificil acreditar.//Grandfather was a lawman./Meu avo^era um homem da lei.//Father too.//Meu pai tambem.//Me and him was sheriff at the same time, him in Plano and me here./Eu e ele eramos sherifes ao mesmo tempo, ele em Plano e eu aqui.//I think he was pretty proud of that.//Penso que ele era bastante orgulhoso disso.//I know I was./Eu sei que eu era. “.

Ha’ dois modos para que um velho, de larga atividade social, possa estar deslocado do seu tempo real. Um e’ quando ele, pela memoria, busca um tempo passado que ja’ nao corresponde mais com os dias em que esta’ vivendo. O outro, e’ quando os dias em que ele esta’ vivendo ( isto e’, as leis, os costumes, os valores, os interesses...) ja’ nao correspondem mais com a sua realidade. E’ por esta brecha, deixada pelo deslocamento das alteracoes sociais, que tanto a melancolica abordagem quanto a ironica critica de McCarthy localizam um pais no qual os velhos nao tem mais lugar.

Se no velho oeste do melhor estilo de John Ford, por exemplo, a ideia central e’/ era a catarse epica das supra-qualidades do heroi apolineo, que vem em nome da lei mais justa, no” western” de McCarthy o mais qualificado pelas habilidades com as armas em nome do fora-da-lei, e’ exatamente o oposto. Aqui ele e’ um anti-heroi, com principios morais e eticas proprias, que nao quer ser visto, entendido ou glorificado. Ao contrario de ser aplaudido e amado, ele paga ou mata para nao-ser.

Enquanto no melhor da concepcao divulgada por hollywood a ideia basica era a vitoria da lei sobre o caos social, no enfoque de McCarthy a tramitacao dos negocios ilegais de drogas ( no caso a heroina ) a lei vigente ja’ nao exerce mais o seu poder. Alias, a lei ( na pessoa do sherife Bell ) queda-se estagnada numa especie de impotencia melancolica que, apesar de saber o que vai ocorrendo, esta’ atrasada nos seus recursos. A ironia e’ que a industria e o comercio da ilegalidade ja’ conquistou o seu espaco objetivo apesar de se assumir fantasma, como seu personagem Chigurh.

Esta industria, aos moldes da gana e ambicoes das do Capital vigente, e’ aqui enigmatica, oculta, implacavel, movida por moralidade diferente e propria, definitivamente fatalista, aversa a memoria, oposta ao registro historico, capaz de usar tanto o aparato armamenticio conhecido como outros imprevistos. Esta industria fora-da-lei tem encontrado como escapar aos moldes que a sociedade tradicional do Capital estabelece e mantem. E’ um imprevisto que cresce e os analistas das sociedades tem que lidar com ele do lado de fora. E’ uma especie, diriamos, de “black hole” para os astronomos.

Nos filmes classicos do “western”, a moda de John Ford ( e mesmo depois com Clint Eastwood ) o vilarejo esta’ sob o caos e os bandidos assaltam e matam a reveria. O heroi entra a cavalo por um lado do lugar e, no desenrolar da historia, ajusta todas as coisas em nome da lei com sua pessoal habilidade com a arma e inteligencia, e sai cavalgando pelo outro lado do cenario, seguindo seu destino vitorioso. Aqui, nos anos finais do seculo XX, quem entra e sai do cenario, depois de eliminar todas as objecoes, sejam elas as dos traficantes em si, a dos oportunistas e / ou a dos mandatarios e’ um novo personagem. Este personagem, apesar de ter as habilidades dos herois apolineos e apesar de lidar com os produtos de inspiracao dionisica, visa unica e exclusivamente o valor lucrativo da operacao ilegal, apesar dos mortos.

E’ um heroi- ante-heroi que paga-e-mata para nao existir conhecido conforme as geracoes mais velhas vem conservando a historia e a realidade.

Eugenio Malta

Eugenio Malta
Enviado por Eugenio Malta em 01/04/2008
Reeditado em 03/04/2008
Código do texto: T926104