Resenha impressionista para "Ilha das Flores"
Dirigido por Jorge Furtado e narrado por Paulo José, este curta gaúcho, de 1989, arrebatou o kikito de melhor filme em Gramado. Merecido reconhecimento.
Seu roteiro explora o significado formal de termos ambíguos como "ser humano", "lixo", "judeu" e mostra a outra significação que eles possuem na realidade. Como exemplo, pode-se citar o fato de que o ser humano possui teleencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor, o que o distingue dos demais seres vivos.
O filme consegue explorar, também, com profundidade, o contraponto, a contradição representada, partindo da idéia econômica de lucro, pela situação dos habitantes de uma ilha transformada em lixão, onde a prioridade na "catação" dos restos é dada para a alimentação de porcos, ao passo que às pessoas que vão catar esse lixo é deixado aquilo que foi rejeitado para alimento aos porcos.
O filme tem seu clímax no desfecho, quando consegue retomar todo o seu enredo (que falou principalmente em lucro, dono e ser humano), mostrando imagens de episódios trágicos que o homem foi capaz de provocar contra outros homens, como a bomba atômica, os massacres de judeus e a situação do pessoal da ilha.
Encerra com uma mensagem forte (uma "paulada") ao dizer que os seres humanos, iguais àqueles que sofreram com as tragédias, distinguem-se dos demais seres vivos por possuírem liberdade. Liberdade é algo que o pessoal da ilha e das outras imagens não tinha. Portanto, na verdade, eles não eram considerados seres humanos.
24.10.1996