CRASH - NO LIMITE DA VIOLÊNCIA

Ontem, assisti ao DVD do filme "Crash - No limite da violência" e fiquei impressionado. Lembro-me que na época em que ele ganhou o Oscar de melhor filme cheguei a pensar que a academia havia se enganado, como já fez tantas e tantas vezes. Humildemente venho aqui reconhecer o meu erro.

O diretor Paul Haggins disse que gostaria de ter feito um filme onde, ao final da projeção, as pessoas se perguntassem sobre o que ele tratava. Pois bem, conseguiu. "Crash" é um filme que foge aos padrões normais de Hollywood, primeiro porque não trata de estereótipos, não existe nenhum grande herói ou um vilão que seja tremendamente malvado. As pessoas são apenas o que são: humanas. Depois, pela própria dificuldade em classificar o filme. Afinal, o que é "Crash"? Um filme que fala de racismo? Talvez. Ou também, já que não é apenas isso. O roteirista Bob Moresco foi muito além de "apenas" falar de racismo. Ele tratou das relações humanas, de como as pessoas se comportam diante do inesperado, de como elas se comunicam e interagem diante de outra com cultura totalmente distinta da sua. Cerca de uma dúzia de personagens vão se esbarrando ao longo do filme, sem que nada tenha sido planejado. Tal qual uma tragédia grega de Sófocles, essas personagens vão sendo conduzidas por mãos invisíveis (Deus? Destino?) e implacáveis que tecem uma teia onde nem tudo é tão simples e ninguém é tão bom ou tão mau quanto parece. Por trás da onomatopéia do título e do infeliz sub-título brasileiro (afinal, o único limite conhecido da violência é a morte), "Crash" nos mostra que as pessoas atacam para se defender, e que, apesar de tudo, a única coisa que queremos, independente da origem, idade, credo ou classe social, é respeito, dignidade e um pouco de amor. Somos atores desempenhando da melhor maneira possível o nosso papel nesse mundo, tentando encontrar a tal felicidade, que talvez nem exista de verdade. É como já dizia o poeta Renato Russo: "Todos têm suas próprias razões". Se você quer diversão, assista "O homem-Aranha". Mas se quer pensar um pouco na vida e no que ela representa para cada um de nós, pode assistir a "Crash". E aproveite para exercitar seus neurônios.