As Crônicas de Nárnia - O Leão, a Feiticeira eo Guarda-Roupa (The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe - Andrew Adamson - 2005)
As Crônicas de Nárnia - O Leão, a Feiticeira eo Guarda-Roupa
Há três níveis de análises possível quando se assiste a um filme como esse. Nárnia é uma adaptação da obra de CS Lewis, que não é desconhecida nem tão famosa como outros livros que circulam ao milhões de exemplares nas cabeceiras das crianças hoje em dia. Conta a história de quatro irmãos que se vêem enrolados nas tramas e profecias de um mundo alternativo que se esconde dentro de um guarda roupas.
A primeira análise passa pela fidelidade da obra, cuja não li ainda, portanto não me vejo apto a analisar. Fiquei com certo interesse ao ver o trailer no meio do ano e tentei comprar o volume, mas preferi adiar a compra já que o volume único com todas as crônicas iria sair.
A segunda é propriamente cinematográfica, nesta me prolongarei um pouco mais.
O filme começa quando vemos um ataque alemão à Inglaterra durante a Segunda Guerra. Somos levados ao interior de uma casa onde quatro irmãos e sua mãe lutam para se abrigar antes que bombas estourem sua casa.
Creio que o filme se detém muito pouco no relacionamento dos quatros irmãos antes de embalar, o que é uma pena, pois alguns dos momentos finais precisaria de um embasamento mais forte do que o que apresenta.
As implicâncias do irmão com o mais velho e toda uma conduta dos quatro acontece como se empurrada goela à baixo do espectador, como se já acompanhássemos a vida dos quatro infantes há bastante tempo e por isso mesmo não precisando tomar muito tempo em desenvolvê-la.
Logo somos apresentados a floresta nevada de onde vamos conhecendo, juntamente com os personagens mirins. Então que as coisas vão acontecendo. E aos poucos elementos do mundo mágico de Nárnia vão sendo apresentados com cuidado bem dosado pela produção e roteiro.
A situação da casa onde em determinado momento o filme volta é meio aborrecida, já que as pendengas entre os irmãos não são muito diferentes que qualquer criança chata na rua. Sem falar em acontecimentos rapidamente administrados pelo roteiro com clichês como por exemplo ao ouvirmos algo assim “amanhã poderemos brincar e fazer tudo que quisermos”, logo sendo cortada a cena para mostrar uma chuva torrencial, sinal do tédio dos irmãos. Ressaltando os diálogos que não são lá muito inspirados.
Mas rapidamente perdemos contato com o mundo real e passamos a mergulhar fundo no mundo Narniano. Conhecemos a Feiticeira Branca, como líder do lado mal do mundo, que domina tudo há 100 anos de um longo inverno, mas essa opressão não é devidamente sentida nem mostrada pelo filme, assim conhecemos apenas através da fala de alguns personagens.
Destaque para a caracterização dos seres mágicos que povoam o filme, são muito bem feitas e bem críveis. Assim como os animais em animação que são inseridos junto aos personagens reais, soam muito bem sem destoarem do todo, e ao vermos um lobo, um castor, uma raposa, um cavalo e um leão falando não estranhamos e até achamos muito simpático o modo como é real a coisa.
Bem como todo filme meio-épico temos a carga dramática, que já falei deixa a desejar um pouco pela falta de embasamento e temos as tiradas cômicas para aliviar certa tesão. Essas que as vezes funcionam as vezes não. Ainda mais com a repetição desenfreada de frases que deixam muitos personagens “engraçadinhos” quando não deveriam, todos tem uma tirada cômica repetindo uma frase dita antes por outro personagem, e nós sabíamos que aquela frase ia dar um caldo no final (ia ser usada de algum modo como manipulação sentimental).
Tirando esses elementos, que podem muito bem funcionar para crianças, mas para adultos já não colam muito, o filme cumpre o papel de divertir e entreter o espectador que conhece um mundo fantástico e se envolve com os seus acontecimentos. Com muitos pontos positivos como, por exemplo, a alternância das narrativas entre a guerra que se desenrola e certo acontecimento paralelo, o filme consegue se manter do meio até o fim sempre pegando a atenção do espectador, e surpreendendo, encantando, tocando ou assustando-o.
Devendo na carga dramática necessária para nos importarmos com o relacionamento dos quatro irmãos acabamos dando mais importância ao relacionamento da caçula com o fauno, por exemplo, e com isso o filme perde um pouco da sua importância ao girar em torno desses seres humanos, que são raros no novo mundo.
Com efeitos muito bem produzidos e uma direção segura (já que acho a falta da dramaticidade direcionada ao roteiro) As Cônicas de Nárnia em seu primeiro volume cumpre bem o papel e diverte, vale a pena ir ver. Com uma ótima trilha sonora que não peca em momento algum do filme, ajudando a criar o clima certo para cada momento e auxiliado ainda pela fotografia que separa muito bem os dois lados do mundo de Nárnia com o caloroso lado do bem com o frio lado do mal toda a produção técnica é impecável.
Como disse antes, cabendo três análises parto para a última e mais profunda que é em relação ao conteúdo da obra.
A obra de CS Lewis é aclamada, mas com ressalvas. Como disse antes, nunca li o livro de origem, mas em ligeiras pesquisas sobre sua obra li muitos comentários aproximando muito o conteúdo com o religioso católico. Pesquisando mais ainda sobre o autor, que era ateu e se converteu passando a defender sua crença, acredito que isso possa ser verdade.
O filme, primeiro, trata de seres humanos sendo responsáveis pela salvação de um mundo encantado, lendo mais profundamente, digamos que se deva a falta dessa fantasia no mundo de hoje e o esquecimento delas, só podendo ser salva pelos próprios humanos, que precisam ser introduzidos dentro de um mundo que cabe em um guarda roupas para crerem de fato em certas coisas.
Logo chegando ao mundo vemos que ele se separa entre personagens bons e maus. E essa separação não é sutil é realmente radical, os personagens maus não trazem um pingo de bondade no coração e os personagens bons não parecem serem maculados por nenhum sentimento ruim, pelo menos a obra não dá espaço para sabermos isso e, portanto, dando a entender a leitura dessa mesma forma de seus personagens.
A Feiticeira Branca é detentora do elemento gelo, onde tudo é frio, gelado e duro. Enquanto o oposto é defendido por um leão, que já submete-nos à natureza e todo seu esplendor, com cores vivas, vento, sol e calor, não o excessivo, mas aquele que é aquecedor e caloroso.
Tudo começa quando sabemos da profecia. Esta que diz que dois filhos de Adão e duas filhas de Eva viriam para, em conjunto de, Aslam (o rei leão) destruir o poderio da Feiticeira Branca e por um fim no inverno de 100 anos que passa o mundo de Nárnia.
Essa menção aos nomes de Adão e Eva é repetida algumas vezes durante o filme, e creio que na obra literária também, a fim de aproximar realmente o pensamento com o da Bíblia. O que vai ser devidamente concluído e certificado quando um personagem se sacrifica em nome do amor, ressuscitando, mais tarde. Elementos muito próximos da doutrina católica.
Essa mensagem oculta, essa moral cristã camuflada, pode ser maléfica para a obra, já que para que uma obra seja universal ela tem de acolher todos os públicos, e não tentar ensinar um só jeito de ser e existir. E não apenas com a conduta dos personagens, mas com a moral sendo explicada e falada pelos personagens.
Enfim, um filme onde o bem e o mal se enfrentam com tanta nitidez que não deixa espaço para uma presença humana, e com tais lições claras de certa moral, creio que em seu conteúdo a obra é deficitária, pois não assume que é claramente uma coisa, nem deixa de citá-la. Como que criando um mundo onde esse mundo não é vivo e real, mas sim apenas uma forma de ensinar algo de forma diversa.
Pelo menos foi a minha impressão, que incomoda em certas partes do filme, mas que no final, se você deixar passar, não consegue estragar a sua diversão.