Resenha Cinema - Flow
Embalado de forma encantadora e sem um único diálogo, Flow traz uma jornada universal repleta de mensagens fundamentais à harmonia do convívio incentivando a compaixão, quebra de preconceitos e luta pela defesa dos princípios, entre outras. Uma produção da Letônia, dirigida por Gints Zilbalodis e feita através de um software gratuito, o filme se tornou um sucesso mundial e símbolo de orgulho nacional. Visualmente belíssima, equilibra com excelência imagens densas e deslumbrantes durante a história contada através de olhos que acompanham a jornada do gatinho por um mundo livre da presença de humanos.
Logo no início do filme temos o conflito universal entre cães e gatos, interrompido por um grupo de cervos fugindo de uma força maior: a inundação que conduz a história e os personagens num “Flow” magnífico. Tapei a boca em completo choque ao assistir a água engolir todo cenário e arrastar o pobre gatinho pelo fluxo da correnteza. Não pude respirar até o resgate dele ser feito pela dócil capivara num barquinho. A partir desse momento, surgem os outros personagens da trama conforme as circunstâncias. A doce capivara sendo a primeira a aparecer com sua enorme compaixão, o vaidoso lêmure, o justo pássaro secretário e, até mesmo, o labrador amigável desvencilhado duma matilha egocêntrica. Todos esses animais, com exceção da capivara e o próprio gato, tiveram seus momentos em bando e precisaram se separar dos seus para seguir o rumo no barco com outras espécies que, até então, não havia tamanha proximidade.
Em certo ponto da história, conhecemos um animal aquático de porte colossal e até mesmo intimidador em meio ao caos provocado pela água. De primeiro momento, fiquei apreensiva por não saber qual seria a interação dele com os demais animais. Porém, desde sua aparição até o último suspiro, sua função foi somente existir em seu habitat natural, além de ajudar o gatinho quando foi preciso. Nós, humanos, com nossa mania grotesca de temer o desconhecido.
Um acontecimento marcante para mim, se for possível escolher entre tantas cenas lindas desse filme, foi certamente o momento transcendental da partida do pássaro em companhia com o gato. Pela minha percepção, o gato ter ido até certo ponto junto com o pássaro e depois retornado pode significar tanto ele “gastando” uma das sete vidas felinas, quanto o sentido espiritual, onde os gatinhos tudo sentem e absorvem, o transformando num ser energético que ali estava sentindo toda energia da vida se esvaindo do pássaro.
Traçando o fim da história do gatinho e seus companheiros de navegação, o nível da água baixa drasticamente a ponto de transformar rios em abismos. Numa das poças que sobraram, temos a cena final que nos transporta para o início do filme onde o gato encarava seu próprio reflexo na água, porém nesta última cena temos ele junto aos companheiros do barco: capivara, cachorro e lêmure. Um filme para assistir por muitas outras vezes, emocionante e repleto de uma sensibilidade impagável. Gostaria, nesse momento, de estar na sala de cinema assistindo esse filme pela primeira vez.
Maravilhosa produção, uma animação para todas as idades de todos os lugares.