Resenha QUANDO NIETZSCHE CHOROU
O filme é baseado no livro homônimo de Irvin D. Yalom. O filme traz uma aproximação, fictícia, entre o médico Joseph Breuer ( professor e mentor de Freud) e Friedrich Nietzche. O encontro dois se dá através de uma mulher pela qual Nietzsche se apaixonou, mas que esta só se apaixonou pelo intelecto do filósofo.
Nietzche vive atormentado pela rejeição e a ebulição intelectual para a época ( século 19), com enxaquecas insuportáveis e convulsões. Lou Salomé (a mulher pela qual o filosofo se apaixonara) procura breuer para que este cure Nietzche através da técnica terapêutica da fala. Mas sobre a condição de que o filósofo não soubesse desse pedido dela e não achasse que o médico sabia de suas tormentas e impulsos suicidas.
Salomé dava as cartas, é impetuosa, ela diz o que fazer, por onde ir. Ela não marcava horas. Deu a Breuer algumas literaturas de Nietzsche para ele se familiarizar com o mesmo.
Ao primeiro encontro Nietzsche com Breuer deixa claro que melancolia fazia parte da sua vivência e que as enxaquecas que tem são as dores do parto, citando aí o seu próximo livro – Assim falava Zaratrusta. Explica ao médico que a temática é um profeta que decide instruir as pessoas, mas que estas se recusam a entender suas palavras. E o profeta percebendo que é demais conhecer, então retorna a sua solidão. Fazendo ai um espelho com sua pròpria ralidade.
Relata a Breuer que acredita que veio cedo demais ao mundo por isso é incompreendido, e que fases negras transformam-se em desespero.
O filósofo se coloca como um ser uno, indivisível, não precisa de mais ninguém para ajudá-lo, ele mesmo cria alternativas de sustentação para sua saúde, tanto que se refere ao sexo como um prazer bestial, e que tais prazeres gregários não são para ele.
Justifica sua solidão pela traição dos outros, “quebrando” ponte formada no relacionamento.
Breuer tenta uma aproximação mais amigável a fim de que possa ajudá-lo, e argumenta que a própria pessoa não pode dissecar a própria psique porque a visão sobre a mesma está embaçada.
Nietzsche exaltado recusa ajuda, mas Breuer barganha e se abre para o filósofo, e propõe uma troca. O médico conta de seus tormentos por uma paixão proibida, e que já que é casado. Nietzsche relata que não pode curar ninguém, nem ele mesmo, ele só sabe suportar as adversidades. Mas aceita o desafio.
Então Nietzsche vai para uma clínica longe de Salomé, e após ser consultado diariamente por Breuer, ele inverte os papéis, faz Breuer pensar, refletir as situações e imaginar outras tantas.
Breuer mesmo não querendo acaba se rendendo as ordens de Nietzsche e consegue vislumbrar alternativas para esquecer da paciente pela qual se apaixonou, provocando atrito e distanciamento de sua esposa.
A cada conversa com o filósofo, Breuer recorria a seu “discípulo" Sigmund Freud, ambos faziam análises das situações, e em determinado momento Breuer declara a Freud que Friedrich conhece a humanidade mais a fundo do que qualquer pessoas, e que poderia ser o maior psicólogo de todos os tempos.
A cada encontro entre o médico e o filósofo havia algo de novo, de surpreende, Nietzsche dizia que não escolher meta, é viver de acidente, logo não ter metas na vida é deixar que a vida seja um acidente.
O filósofo relatava que o tempo de desculpas acabaram , é preciso assumir nossas imperfeições, devemos nos apaixonar mais pelo objeto desejado do que pelo desejo, e que para ficar forte é preciso criar raízes profundas dentro do nada, aprender a encarar sua mais solitária solidão.
Nietzche assim consegue libertar o médico da paixão proibida e vai se tornando amigo do médico, a relação paciente e médico se encerra quando Breuer convida-o para um passeio até o túmulo de sua mãe, e lá chegando Nietzche então compreende o que significa a paixão oculta do médico por uma paciente. Tanto a mãe quando a mulher pela qual Breuer tinha se apaixonado tinham o mesmo nome, e a mãe do médico falecera quando tinha uma idade aproximada da moça.
Nietzsche tenta desmistificar essa paixão de Breuer, fazendo-o imaginar situações grotescas com a tal amada. Breuer percebeu que este era o caminho de esquecer, então pede a Sigmund para hipnotizá-lo e durante a hipnose ele consegue vivenciar todas as situações adversas, os problemas que enfrentaria caso largasse sua família para viver uma paixão.
O filme basicamente é isso, vem mostrar a psicanálise não foi elaborada somente na época de Freud, este teve mérito sim, além de dar nomes as várias fases da vida, das situações e circunstancia. É possível observar traços psicanalíticos na filosofia de Nietzsche, muito bem apresentada pelo filme, mesmo não tendo o filósofo essa pretensão, pois ele utilizava recursos hoje chamados psicanalíticos para se suportar, para agüentar seus tormentos.
É um filme bom de se ver, eu indico, desde que a pessoa tenha uma pequena noção de quem foi o filósofo, ou ainda aqueles que leram o livro de mesmo nome do filme e os que gostam da temática.
Ouso dizer que o livro é bem melhor por ser mais completo e complexo, mas o filme é marcante com frases de impacto. Já está disponível em bancas e na internet. Infelizmente não foi aos cinemas.
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