Ilha das flores, filme de Jorge Furtado

Este curta metragem obriga-nos a repensar a vida, o mundo e a nossa participação, contribuição e negligência sobre tudo o que acontece. Até que ponto eu também sou responsável? Inspirada por ele, cronicam-se os pensamentos abaixo.

Sou um bípede, tenho um telencéfalo altamente desenvolvido, também tenho o polegar opositor, logo, sou um ser humano!
Um ser acima do tomate, do porco e do dinheiro.

 
Mas se desde 1800 cultivamos tomates, quando eu troco o meu dinheiro por perfumes, cheiro melhor. Eu cheiro melhor, mas a minha alma ainda fede.
 
O lucro que foi proibido aos católicos, hoje é permitido a todo mundo. Eu existo e sou católica. E Deus existe sem lucro?
 
O porco é um mamífero, eu também, mamei e dei de mamar, mas ele é quadrúpede, sem telencéfalo, sem polegar, comido por todos menos pelos judeus... Algo em mim torna-me mais porca que uma porca.
 
Família, ah família, se não fosse ela, eu nem existia, desistia...
 
Lixo? Não sabem? é aquele que não serve, cheira mal e prolifera doenças – ele é livre na Ilha das flores! Livre... Livre... Tal qual o lixo, eu sou livre e a imensidão da minha liberdade me aprisiona.

Há poucas flores na Ilha das flores, mas até um porco tem dono, até um porco, mas eu sou livre...

No julgamento do porco, sou um tomate, cultivado desde 1800. Mentira! Mentira! Minha alma é mais velha...

Porco tem dono...

 
Terreno? tem dono e cerca. Eu não tenho cerca, sou livre... E para que servem as cercas? Que pergunta boba, todo mundo sabe, servem para pular, pular e pular.
 
Quem foi Mendes Sá? O que eram as capitanias hereditárias? Estes dados da memória não me ajudam, tenho tanto medo da CPMF, como da falta dela.
 
Mulheres e crianças desamparadas? Não tem dono, dinheiro e são muitas, mas elas têm dez minutos... Dez minutos... E pegam os tomates dos porcos. A puta do Paulo Coelho tem Onze minutos... E pega o seu dinheiro.

Eu tenho a vida inteira. Não quero tomates, não quero dinheiro!

 
Ter a vida inteira para quem se encontrou com o átomo de césio, talvez, é muito tempo. 
 
Eu sou livre, tenho mais que dez minutos para achar os meus tomates, não tenho terreno, não tenho dono, não tenho cerca, tenho apenas esta angústia por ver que o meu tempo está acabando e o sonho que me alimenta não basta.


Assista o vídeo Ilhas das flores de Jorge Furtado clicando aqui!