GLADIADOR 2
(Resenha)
A minha resenha sobre um filme assim não pode ser dissociada da subjetividade espiritual - é impossível, e quem me conhece de fato sabe da razão.
São séculos... milênios pessoais de intimidade com a antiguidade romana, portanto, aos que não entendem bem a razão, peço vênia pela resenha impregnada de um certo tom intimista - mas é que Gladiador, tanto faz o primeiro quanto o segundo, me escancaram um portal descomunal para um passado particular, e são, ambos, gatilhos poderosos e inevitáveis para recordações espontâneas de vidas passadas - para intensos dejà vus!
No entanto, o próprio diretor, Ridley Scott, em entrevistas anteriores evidenciou sua visão de vida bastante espiritualizada - a partir disso, fica mais fácil entender a minha ressonância perfeita com as suas produções históricas, não somente preocupadas em arrecadar público apelando para as superficialidades de uma época cujo contexto de violência e corrupção social e política seriam, por si, atrativo suficiente, às salas de cinemas, de um público maciço, vivente dos nossos tempos com a sua própria carga massiva de materialismo exacerbado, corrupção e barbáries, apenas que em versões atualizadas.
Gladiador 2, como aconteceu no primeiro, no entanto não é nada disso.
Chego a sentir dificuldades para descrever em palavras apropriadas um espetáculo cinematográfico dessa magnitude, que ouso definir quase como holográfico - pela sua capacidade hipnótica de arrebatamento irresistível para dentro da época que descreve, dramática e visualmente, com uma precisão estonteante.
Celebrado como melhor filme do ano pela BBC, com expectativas generosas para ao menos dez Oscar, e mais longo que o primeiro, de vinte anos atrás, o que em nada importa! O filme, desde o começo, literalmente "suga", transporta o público para dentro da tela num estado de quase sem fôlego, para a sucessão arrebatadora de momentos dramáticos, misturando o êxtase da contemplação perfeita de cenários dos quais nos separam dois mil anos com as emoções múltiplas provocadas pelos acontecimentos com cada um dos personagens ricos em complexidades psicológicas!
Não quero, aqui, fazer spoiler sobre essas complexidades que trazem toda a riqueza e beleza da trama - deixo a descoberta para quem vá aos cinemas conferir; prefiro me deter na atuação espetacular de um elenco estelar, provocando de caso pensado a sua curiosidade, ao mesmo tempo que faço justiça à estatura colossal desta produção.
Para tanto, não precisa muito:
Paul Mescal, com atuação magnífica, vem como o heroico Lucius, revelando-se como ator de primeira grandeza.
Pedro Pascal é fascinante e competente como o vigoroso general romano Marcus Acácius.
Denzel Washington é o, de início, indecifrável Macrinus - sobre esse, são dispensados comentários da sua atuação excepcional na complexidade espetacular do seu personagem.
A belíssima atriz dinamarquesa Connie Nielsen volta na altiva, nobre, combativa Lucila com sua atuação decisiva dentro da política corrupta e dos excessos de brutalidade de imperadores insanos, num império desequilibrado com sintomas de franco declínio.
Joseph Quinn e Fred Hechinger são os exóticos, desequilibrados imperadores irmãos Geta e Caracalla. Os dois jovens atores oferecem um desempenho completamente convincente do perfil psicológico insano, perturbador, profundamente cruel desses dois césares da antiguidade romana.
Derek Jacobi - senhorial, o excelente ator de idade avançada retorna também, como o nobre senador Gracco.
Gladiador 2, para os mais esquecidos da primeira trama exibida há vinte anos, sabe, ainda, amarrar bem este passado histórico do drama vivido pelo general Maximus Decimus Meridius - ao mantê-lo vivo e decisivo em memória, durante todo o decorrer da trama, ao mesmo tempo em que nos tira o fôlego contando a sequência dos acontecimentos: dezesseis anos após a morte do imperador Marco Aurélio, os desdobramentos simultâneos na vida de sua filha Lucila e do então adulto Lucius; um Império Romano mergulhado num misto assombroso de loucura política, agitação feerica, guerras sangrentas de conquistas realizadas pelos exércitos romanos às ordens dos imperadores irmãos, Caracalla e Geta e seus excessos insanos de poder; lutas sucessivas em um Coliseu lotado pelo público ávido por sangue e carnificina daqueles tempos...
Gladiador 2 é, portanto, mais do que um filme!
Se o primeiro, premiado com louvor, entrega, com justiça, a estátua de melhor ator a Russell Crowe, e a Ridley o de melhor filme, entre outras premiações, este segundo, na contramão de muitas sequências, mereceria, talvez, um prêmio inédito e utópico pelo feito de teletransportar as multidões hipnotizadas das salas lotadas dos cinemas, literalmente, para dentro dos cenários vivos e estupendos do Império Romano com toda a sua magnificência, insanidades de poder, uma algaravia quase enlouquecedora que mistura glória, heroismo, sangue e esplendor!
"Força e honra!"
"Onde nós estamos, a morte não está; onde a morte está, não estamos!"
"O que fazemos em vida ecoa na eternidade!"
Confiram!
Vale cada centavo do ingresso - no meu caso, certamente mais de uma vez!
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