O Coringa na pele de Kafka
Assisti ao O Coringa , Delírio a dois.
Só não é um grande filme pela burrice do diretor que aceitou o enredo equivocado quanto ao tempo e personagem.
O grande diretor Costas Grava e o grande Emir Kustirica ficariam orgulhosos de tê-lo dirigido.
Não vou aqui dar toda a ficha técnica porque 99,99%+ dos que me leem não querem saber.
A atuação do ator é fabulosa. Como um pária desolado, Arthur Fleck nos faz acreditar piamente na sua bipolaridade ao mesmo tempo poética e brutal. Eu pulei do sofá quando ele esmaga a cabeça do juiz com o malhete. Atormentado sem nenhuma esperança ou futuro, só sofrimento, o ator transmite isso numa linguagem corporal que choca.
Me pergunto se é fX. Oscar pra maquiagem, eu votaria.
A intensa viagem do devaneio a uma pseudo realidade, conduzida pela personagem jocastiana, com toques de Medusa, nos faz torcer, como homem, pela maldade latente que carregamos enquanto nossa mãe faz cara feia e depois sorri.
A tragédia chega quando a sociedade impõe o dr. Hide a Fleck , mas a musa de seus devaneios o quer Mr. Jeckyl.
Se o roteiro se localizasse na Tchecoslováquia durante a Primavera de Praga, seria perfeito (mais outro Oscar). Transforme-se o Coringa em Dubcek. Só mudem os uniformes dos guardas e mantenha-se a mesma escuridão e imundice do cenário de Arkham. Sem esquecer a banalidade do mal incorporada em cada carcereiro e a espiral esmagadora da vontade do tirano.
Joaquim Phoenix nunca estaria tão a vontade, como Alecsande Dubcek.
O final, inaceitável em Delirios a dois, seria grandioso como o epilogo que foi a Primavera de Praga.