Sailor Moon, Chibi Chibi e a Princesa Kakyuu chegam ao cemitério das sailors: as sepulturas ostentam cruzes, o signo cristão que aparece muito ao longo da saga da Guerreira do Amor e da Justiça.

 

Sailor Moon Cosmos Parte 2: a batalha final da Princesa da Lua

 

A resenha da parte 1 saiu aqui:

https://www.recantodasletras.com.br/resenhasdefilmes/8142882

 

A mensagem de amor, compaixão, senso de dever e até de auto-sacrificio de Sailor Moon é tão extraordinária que merece atenta análise.

Criada em 1991 por Naoko Takeuchi, ex-sacerdotisa xintoista, Sailor Moon (Marinheira da Lua) representa um novo conceito de super-heroína. Ela é a heroína do amor, não da violência como a gente vê hoje nos "heróis" da DC, Marvel e vários japoneses da linha "shonen". Desprovida de agressividade, a sua missão é proteger e purificar.

Vimos na Parte 1 de "Sailor Moon Cosmos" como a Terra foi atacada por falsas "sailors" enviadas por Galáxia, uma sailor poderosa porém degenerada, que passou para o lado do mal e se associou a Chaos, a essência da maldade.

O Tuxedo Mask (Mamoru Chiba), noivo de Usagi Tsukino (Sailor Moon), foi morto por Galáxia, e também foram mortas as oito "sailors" do Sistema Solar.

Como Chibiusa, a Pequena Dama, voltou para o futuro, Sailor Moon só não se vê de todo só porque quatro "sailors" extra-solares - as três Starlights e a Princesa Kakyuu - vieram até a Terra, assim como a pequena e misteriosa Chibi Chibi.

A Princesa da Lua Branca se dispõe a recuperar todas as sailors que se foram. É contundente a cena em que Usagi deixa os três gatos - Luna, Artemis e Diana - com sua mãe Ikuko e vai embora, depois de explicar que Minako (Sailor Vênus) não está podendo ficar com Artemis e Diana (marido e filha de Luna). Ikuko fica de certa forma abismada, com a estranha impressão de que Usagi não voltará.

Aí começa a jornada redentora da Guerreira do Amor e da Justiça. Primeiramente Usagi tenta localizar em seus castelos, nos respectivos planetas, as guerreiras do Sistema Solar Exterior, só para descobrir que, como Mercúrio, Marte, Júpiter e Vênus, também Urano, Netuno, Saturno e Plutão foram mortas. Agora só resta a Sailor Moon seguir adiante e encontrar Galáxia no Caldeirão Central da Via Láctea.

 

Assim começou a Guerra das Sailors.

 

Sailor Moon e seu destino inevitável. 

"O destino do mundo pode, em dado momento, repousar nas mãos de uma única pessoa. Se esta pessoa falhar, o mundo poderá se perder."

(Clifford D. Simak)

 

Resenha da Parte 2 da duologia "Sailor Moon Cosmos" (Japão, 2023). Em exibição na Netflix.

 

Criação e supervisão: Naoko Takeuchi.

 

Produção: Hideharu Gomi e Seira Takano.

 

Direção: Tomoya Takahashi.

 

Roteiro: Kazuyuki Fudeyasu.

 

Música: Yasuharu Takahashi.

 

Toei Animation e Studio Deen.

 

Título original: Gekijobane Bishojo Senshi Sera Mun Kosumosu.

 

Elenco:

 

Usagi Tsukino (Sailor Moon, Princesa da Lua Branca).................................Kotono Mitsuishi

 

Luna,....,.................................Ryo Hirohashi

 

Mamoru Chiba..................Kenji Nojima

 

Ami Mizuno (Sailor Mercúrio): Hisako Kanemoto

 

Rei Hino (Sailor Marte): Rina Sátô

 

Makoto Kino (Sailor Júpiter): Ami Koshimizu

 

Minako Aino (Sailor Vênus): Shizuka Itô

 

Artemis: Taishi Murata

 

Chibiusa: Misato Fukuen

 

Diana: Shoko Nakagawa

 

Setsuna Meioh (Sailor Plutão): Ai Maeda

 

Haruka Tenoh (Sailor Urano): Junko Minagawa

 

Michiru Kaioh (Sailor Netuno): Sayaka Ohara

 

Hotaru Tomoe (Sailor Saturno): Yukiyo Fujii

 

Seya (Star Fighter)

 

Taiki (Star Maker)

 

Yaten ( Star Healer)

 

Princesa Kakyuu: Nana Mizuki

 

Chibi Chibi: Kotono Mitsuishi

 

Sailor Cosmos: Keiko Kitagawa

 

Chaos: Mitsuki Saiga

 

Galáxia: Megami Hayashibara

 

Ikuko Tsukino: Wakana Yamazaki

 

Kenji Tsukino: Mitsuaki Madono

 

Shingo Tsukino: Seira Ryu

 

Phobos: Kanami Taguchi

 

Deimos: Aya Yamane

 

Wiseman: Hiroshi Iwasaki

 

Nota: Kotono Mitsuishi é a famosa primeira dubladora de Sailor Moon, nos anos 90, ainda dublando a heroína nos anos recentes. Aqui ela também faz a voz de Chibi Chibi.

 

Galáxia, a Rainha Dourada: ansiosa por destruir Sailor Moon e se apossar do Sagrado Cristal de Prata, a arma divina portada pela Princesa da Lua Branca.

 

"Se ela quer o meu cristal de prata, deveria vir até mim!"

(Sailor Moon)

 

"Todos nascemos para viver!"

(Sailor Moon)

 

"Eu não vim aqui perder nada. Eu vim salvar meus amigos!"

(Sailor Moon)

 

"Posso me sacrificar o quanto for, isso não vai parar a luta! O único jeito é ganhar essa guerra!"

(Sailor Moon)

 

"Essa batalha é da Sailor Moon. O destino da galáxia depende dela. Acredite na Sailor Moon!"

(Chibi Chibi)

 

"Meu poder não vem do ódio."

(Sailor Moon)

 

"O poder de uma sailor guardiã deveria ser usado para manter a paz e a justiça! E para servir aos nossos amigos e as pessoas que amamos! Estou aqui por causa dos amigos e daqueles a quem amo!"

(Sailor Moon)

 

Haverá alguma outra super-heroína ou algum super-herói que fale tão bonito como a Sailor Moon?

 

O que impressiona em "Sailor Moon Cosmos" e especialmente na Parte 2 é que a bondade extrema da protagonista vai ao ápice e está mais explícita do que nunca. Usagi possui uma serenidade de caráter única na ficção, e não por acaso ela é também a antiga Princesa Serenidade do Reino Lunar. De forma estóica ela considera até a conveniência da sua própria morte, se tal fato tiver utilidade. Assim, quando uma das "sailors" que equivocadamente se colocam a serviço de Galáxia acusa Usagi de ser a culpada pela guerra - porque outras pessoas lutam por ela - Sailor Moon responde: "Se você acha que eu sou a culpada pela guerra, então me mate".

Esta resposta quebrou a inimiga.

A Princesa da Lua, ao longo da saga, em várias ocasiões fez de inimigos, amigos.

Porém, quando ela sente que seu sacrifício não adiantará pois, como exclama Chibiusa (que veio do futuro para ajudar a salvar a situação e impedir que o futuro conhecido se desfaça), quem irá defender a galáxia? - então Sailor Moon luta contra quem não queria lutar: suas amigas, as oito sailors planetárias do nosso Sistema Solar que, com suas mentes tomadas, agora lutam por Galáxia, a Sailor da Destruição.

 

A GUERRA DAS SAILORS 

 

Sailor Moon é violentamente atacada pelas oito sailors e chega as lágrimas, pois lhe repugna lutar com suas amigas tão queridas.

Mas trata-se de uma possessão diabólica. Assim, inacreditavelmente, todas as oito (Mercúrio, Marte, Júpiter, Vênus, Urano, Netuno, Saturno e Plutão) se voltam contra Sailor Moon e lançam contra ela seus poderes energéticos.

Contundente a cena em que Sailor Moon, chamando todo o seu poder, volatiliza as oito sailors, confiando em que poderá trazê-las de volta.

As sequências finais de "Sailor Moon Cosmos" são altamente filosóficas e chegam a ser de difícil compreensão em sua cosmogonia que fala da origem da vida e do significado das navegantes guerreiras. Embora o nome de Deus não seja citado (pelo menos, salvo engano, não nas legendas), o fator transcendente está presente e com referências cristãs: Sailor Moon descobre um cemitério de sailors, cheio de cruzes. Ela chega a se encontrar no Céu com Mamoru e as sailors do Sistema Solar, todas com aquelas túnicas brancas e descalças, como em iconografias tradicionais. Porém, todas serão chamadas à ressurreição, Mamoru Chiba também.

Vencer pela bondade é a arma de Sailor Moon, "aceitar a todos" como ela resolve, e assim sua bondade converterá até Galáxia, que se torna sua amiga, fracassando somente com Chaos, a essência da maldade, que repele a heroína quando ela tenta abraça-lo. A morte de Chaos, estilhaçado, se dá por não suportar a bondade de Sailor Moon. E como Chaos pode ser identificado como o Lúcifer do conceito judaico-cristão, vemos também como o bem e o mal são escolhas pessoais. Chaos não queria o bem e não poderia ser obrigado. Então, fica a informação de que o mal não podia ser de todo eliminado: abismado nas profundezas do Caldeirão Central da Via Láctea, derrotado por Sailor Moon, ele poderia retornar um dia, num longínquo futuro.

Prevalece porém o otimismo, a mensagem positiva, inclusive no matrimônio de Usagi com Mamoru, numa igreja católica, Usagi com o vestido branco de noiva.

E a criadora, Naoko Takeuchi, deixou nos créditos finais uma simpática mensagem: "Obrigada por assistirem".

Termina aqui - pela primeira vez contada em longa-metragem nesta última fase - a saga de Sailor Moon. O que poderá surgir daqui para a frente? Irá Naoko escrever novas aventuras da personagem? O tempo dirá.

Sailor Moon é a heroína que não mete medo e não tem ódio nem raiva dos adversários. 

"Sailor Moon Cosmos" é obra de grande importância no panorama cinematográfico, por sua qualidade moral, artística e estética. 

Naoko Takeuchi é uma das mais significativas ficcionistas dos quadrinhos e filmes na atualidade. 

 

O confronto direto entre Sailor Moon e Galáxia chega ao corpo-a-corpo. O duelo entre as duas potestades é sensacional, mas a vitória final de Sailor Moon, contrariando o que é habitual nas histórias de super-heróis, não se dá pela morte ou humilhação da adversária, mas pela bondade da Princesa da Lua, que ela consegue transmitir por infusão sobrenatural. Galáxia cai em si e abandona a luta.

 

 

 

Rio de Janeiro, 14 a 17 de setembro de 2024.