Beetlejuice 2 nadou e morreu na praia
Aqui quem fala é um grande fã das ideias e da estética de Tim Burton, e o Beetlejuice de 1988, nosso conhecido "Os fantasmas se divertem", é um dos meus filmes preferidos, uma obra simplesmente singular e que traz no Besouro-Suco um dos personagens mais exóticos do cinema. É um daqueles casos de filme clássico-cult-bizarro que só melhorou com o tempo, justamente por estar tão envelhecido. Seu visual datado, seus efeitos práticos – incluindo a ilustre presença do stop-motion – e sua época mais simples o tornam extremamente nostálgico e encantador aos olhos, sem falar em sua trama mirabolante e a impagável cena do jantar.
Por essas e outras, eu estava muito ansioso para ver sua sequência – que acabou me causando uma mistura de sensações.
"Os fantasmas AINDA se divertem" cumpre bem o seu papel como continuação, mas deixando um gostinho de que fez apenas o básico para isso. Sua trama aproveitou muito bem o lapso temporal desde a década de 80 para trazer uma história diferente com novos acontecimentos na atualidade. Mira e acerta na nostalgia, sendo este o maior poder desta obra, ao fazer as referências necessárias e bem dosadas ao primeiro filme sem se limitar a ser uma cópia, embora copie muita coisa.
A criatividade e o humor fúnebre, que são marcas desse diretor, estão lá de modo satisfatório. Mortos dos mais variados tipos vão aparecendo a todo momento, mostrando sem pudor a causa do óbito em seus corpos, de uma forma ao mesmo tempo cartunesca mas também explicitamente macabra. Nesse contexto, entre algumas tripas verdes, membros amputados e esguichos de sangue, pode-se reconhecer boas sacadas ao longo do filme, inclusive um trocadilho com a palavra "soul" ("alma" em inglês, mas também nome de um gênero musical), que simplesmente desaparece na versão dublada – sim, optei por assistir dublado, como geralmente faço com filmes de comédia ou cujo visual seja um grande destaque. A perda dessa sacada em português deixou completamente sem sentido que a estação do "Trem das Almas" pareça uma discoteca com um monte de gente dançando.
Porém, o humor deste filme não foi para mim do tipo de provocar gargalhadas, e sim aquele risinho de canto de boca ao se deparar com a criatividade e a maluquice das ideias. Talvez o primeiro filme, considerando sua época, tenha trazido mais surpresas em sua jocosidade, e por isso, foi mais poderoso em provocar risos.
Mas o que realmente me incomodou nesta sequência é que ela não demora a se mostrar bastante caótica. Li algumas críticas em que essa característica foi elogiada como uma qualidade, como se fosse um tempero do filme. Mas para mim, fez apenas parecer bagunçado, com um roteiro todo quebrado e com as peças mal encaixadas. No primeiro filme, é nítida a evolução da trama, com um fato levando ao outro. Neste segundo, várias sub-tramas estão amontoadas. Tive a sensação de um excesso de personagens e de coisas acontecendo paralelamente, criando um vai-e-vem de situações muito apressadamente. Beetlejuice tem seus objetivos, faz acordo com uma, faz acordo com outra, e tudo isso enquanto é perseguido pela polícia do além e por sua ex-esposa, que no fundo ficou sem dizer a que veio. Quase sem falas, ela não fez a menor diferença na história, servindo mais como plano de fundo no passado do Senhor Suco e dar trabalho ao chefe de polícia. Uma personagem bastante desperdiçada, já que sua aparição foi sensacional e sua presença era poderosa e impactante, realmente provocando medo. Enquanto isso, os outros personagens, também com seus objetivos e problemas, parecem disputar espaço na tela.
A "pressa" dos acontecimentos também se mostra através das soluções mágicas ou repentinas que são encontradas para resolver certas situações, seja pelas mãos de Beetlejuice e seus poderes, seja pelas instruções do Manual dos Recém Falecidos. No além tudo pode acontecer, e acontece de qualquer jeito, mas sempre de forma conveniente para encerrar aquela cena e abrir espaço para a próxima.
Infelizmente também tive uma pequena decepção com a Lydia adulta. Se no primeiro filme ela era esperta e tinha uma personalidade marcante, verdadeira ovelha negra da família e decidida em suas atitudes, parece que a vida adulta a tornou uma mulher insegura que está o tempo todo fazendo o que não quer fazer, perdida entre a madrasta egocêntrica, o noivo ambicioso e a filha descrente.
Sem spoiler, direi sobre o final apenas que ele fez o filme terminar com os ânimos em baixa. Parece que quanto mais perto do fim, mais o diretor perdeu a mão e não se importou em fazer um encerramento bastante abobalhado, como se nesse momento tivesse ido para a tela um esboço de roteiro, sem acabamento. O primeiro filme termina lindamente, com uma série de cenas onde todos os personagens finalmente estão em paz em seus lugares e em harmonia com a nova fase de suas vidas – e mortes –, com destaque para Lydia e sua dança voadora ao som de outra música do gênero calipso (sendo a primeira no jantar dos Deetz). Já Beetlejuice 2 parece que simplesmente acaba de repente. Merecia um final no mínimo equivalente.
Assim, com elogios de um lado e críticas do outro, me pareceu que esse filme ficou um tanto pesado, no sentido de indigesto, com suas qualidades dispersas no meio da bagunça.