1978. A Revolta dos Búzios. Sonho Abortado.
1798. A revolta dos Búzios. O sonho abortado
Gutemberg Armando Diniz Guerra
Conheço Antonio Olavo desde os tempos de estudante na Universidade Federal da Bahia, quando as articulações pela resistência à ditadura militar vigente era um elemento que aproximava ou mantinha elos de solidariedade mesmo que as pessoas não tivessem afinidades e oportunidades de diálogos muito aprofundados. Seus trabalhos como fotógrafo foram sendo conhecidos no movimento estudantil e político, tanto quanto os filmes de curta metragem que começou a produzir e exibir entre os intelectuais da cidade. Recentemente fui comunicado do lançamento de 1798. Revolta dos Búzios filme que estreia depois de ter sido produzido pelo cineasta em 2018. Divulguei amplamente entre os meus contatos e fui assistir no derradeiro dia de exibição no Cine Líbero Luxardo, na Fundação Cultural do Estado do Pará.
O filme é uma verdadeira aula de História do Brasil, projetando um dentre muitos fatos históricos importantes da luta por independência do país e construção da democracia. Demonstra um um ambiente extremamente repressivo, em uma cidade caracterizada como centro político recém saído da condição de capital da colônia, com uma presença marcante de negros escravizados e alforriados, conectados com ideais republicanos inspirados pelas revoluções burguesas do final do século XVIII.
Construído com uma cronologia que cobre os 15 meses que vão da tentativa de levante em 12 de agosto de 1798 e a condenação dos envolvidos em novembro de 1799, apresenta uma estética com uma iluminação e atores predominantemente negros, o roteiro é introduzido por um rapper cantando versos que denunciam uma história pouco divulgada nas escolas e ambientes familiares.
A Revolta dos Búzios, dos Alfaiates, ou Inconfidência Baiana deveria ter um destaque nos currículos escolares por conta de representar um momento importante de contestação ao domínio português, com uma perspectiva de independência da colônia e fundação de um país sem discriminação racial nem de gênero. Envolvia intelectuais brancos liberais mais era constituída majoritariamente por negros escravizados e alforriados. O ambiente era propício pelo fato de a capital ter sido deslocada em 1763 para o Rio de Janeiro e ter havido um processo de degradação econômica que desagradava aos baianos.
O roteiro do filme segue uma lógica temporal em um espaço que, conforme demostrado na sequência da montagem do levante, deveria ser melhor explorado em atividades didáticas e turisticas. Com a inserção de mapas de localização dos eventos, temos uma ilustração clara de como se dava a circulação da população humilde na cidade, e como a administração do executivo municipal cobria essa área.
Na constituição da proposta do movimento revoltoso, a tomada do poder estava prevista com alianças com personalidades dos setores dominantes como intelectuais, comerciantes e clérigos. Caso se concretizasse o plano da revolta, o governador seria um branco e se manteria um bispo, também branco, na direção da diocese.
A agilidade do governo provincial e a delação dos propósitos dos revoltosos favoreceram a uma repressão violentíssima e a condenações seletivas, demarcando o racismo e controle do estado sobre a sociedade da época. É um filme essencial para conhecimento de nossa história e reconhecimento do heroísmo de nosso povo!