Agatha Christie e o Expresso do Oriente
Resenha do filme "Assassinato no Expresso do Oriente". G.W. Films Limited e Films Emi, Inglaterra, 1974, 128 minutos. Produção: John Brabourne e Richard Goodwin. Direção: Sidney Lumet. Roteiro de Paul Dehn, com base no romance homônimo de Agatha Christie. Música: Richard Rodney Bennett. Orquestra The Royal Opera House, Covent Garden, conduzida por Marcus Dods. Fotografia: Geoffrey Unsworth. Montagem: Anne V. Coates.
"Um assassino repulsivo foi assassinado repulsivamente e talvez, merecidamente."
(Hercule Poirot)
Elenco:
Hercule Poirot: Albert Finney
Mrs. Hubbard: Lauren Bacall
Bianchi: Martin Balsam
Greta: Ingrid Bergman
Condessa Andrenyl: Jacqueline Bisset
Pierre: Jean-Pierre Cassel
Coronel Arbuthnott: Sean Connery
Beddoes: John Gielgud
Princesa Dragamiroff: Wendy Hiller
Mr. Queen: Anthony Perkins
Mary Debenham: Vanessa Redgrave
Hildegarde: Rachel Roberts
Ratchett: Richard Widmark
Count Andrenyl: Michael York
Hardman: Colin Blakely
Doctor Constantine: Giorge Coulouris
Foscarelli: Denis Qualley
Um dos melhores filmes policiais que eu já assisti, é uma boa adaptação do célebre e consagrado romance de Agatha Christie, que eu tive ocasião de ler há muitos anos (foi lançado em 1934). É uma das investigações de Hercule Poirot, o detetive belga radicado na Inglaterra.
Retornando da Turquia, Poirot embarca no Expresso do Oriente, junto com o diretor da firma, Bianchi (Martin Balsam), seu amigo, e várias outras pessoas, inclusive o misterioso Ratchett (Richard Widmark), que viaja com dois empregados e tenta contratar Poirot como guarda-costas, já que estava sendo ameaçado. Poirot recusa o serviço, já que isso não combinava com ele.
E quando a composição fica retida pela nevasca que caiu durante a noite, na manhã seguinte Ratchett é encontrado morto, com diversas facadas. Bianchi pede a Poirot que investigue o caso, pois há pessoas importantes a bordo, inclusive uma princesa.
Albert Finney está ótimo no papel de Poirot, com sua bizarrice, um detetive original e cheio de maneirismos, que vai ligando os fatos e indícios com calma e método, até a solução final.
Entretanto a solução final neste filme a gente não pode revelar, de tão extraordinária. Agatha Christie é, aliás, especialista em finais surpreendentes, imprevisíveis.
Sean Connery aparece como o Coronel Arbuthnott, homem decidido e secretamente comprometido com Mary Debenham (Vanessa Redgrave). Aliás o coronel quase tem uma briga com o impassível Poirot, que gosta de provocar os suspeitos para que eles deixem escapar detalhes importantes.
Há uma galeria de personagens originais, como uma missionária evangélica, uma princesa russa que, segundo Poirot, fingia ser mais velha do que era, um italiano gaiato que propõe a teoria da "vendetta" mafiosa, e um velho médico cuja presença é bem adequada ao caso, como a de Poirot.
A atuação de Albert Finney é de fato carismática, com os maneirismos do detetive belga movendo-se meio curvado para o lado, usando tom pouco amigável e muito direto e, indo além das aparências, reunindo pequenos detalhes de cada depoimento até formar o espinhoso resultado de suas deduções.
Os produtores, o diretor e o roteirista desta obra-prima estão de parabéns, porém sentimos que a principal autora, que transparece através da adaptação, é mesmo a novelista Agatha Christie, na época ainda viva, pois a rede de deduções para a elucidação do quebra-cabeça é como se o livro original falasse através do filme.
Rio de Janeiro, 20 a 27 de junho de 2024.
Nota: o romance de Agatha Christie parece inspirado no caso real do sequestro e assassinato do bebê Lindbergh, filho do famoso aviador Charles Lindbergh. Na história é uma menina, da família hipotética dos Armstrong.