"Nascimento de uma nação", de Griffith
NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO, DE GRIFFITH
Miguel Carqueija
Resenha do épico “Nascimento de uma nação” (The birth of a nation). David W. Griffith Corp., EUA, 1915. Produção, direção e roteiro: David W. Griffith. Adaptação do livro “The clansman: a historical romance of the Ku Klux Klan”. Com Lillian Gish, Henry B. Walthall, Miriam Cooper, Mae Marsh, George Siegmann, Mary Alden, John Ford, Elmo Lincoln, Robert Harron, Ralph Lewis, Donald Crisp, Elmer Clifton, Raoul Walsh, Eric von Stroheim, Bessie Love, Louis B. Mayer. Montagem: David W. Griffith, Raoul Walsh.
Embora considerado um dos filmes mais importantes da história do cinema, por causa das inovações, é também extraordinariamente repulsivo, por seu conteúdo ostensivamente racista e até escravagista.
O título já é questionável, pois se passa durante a Guerra de Secessão (1861-1865) e anos seguintes, e os Estados Unidos surgiram em 1776.
Sendo filme mudo, apresenta os intertítulos com explicações que derivam para o racismo: os abolicionistas manipulavam os negros e a guerra é vista pela ótica do sul. Com a vitória do norte os negros se apossam da Carolina do Sul, inclusive da Assembléia Legislativa, onde obtêm a maioria. Aí nós vemos o negro Gus perseguindo uma moça branca até que ela se joga do barranco e morre.
Aí os encapuzados da Ku Klux Klan pegam o sujeito e o executam.
O branco Stoneman é eleito governador mas seu vice é um mulato, Lynch, mostrado como um sujeito maquiavélico.
Há muitos figurantes negros, mas a maioria são brancos com o rosto pintado de preto — dá para perceber. Pior, os negros são apresentados como boçais, relaxados, maldosos.
Os elogios à obra se limitam à parte técnica — novidades como a longa duração, movimentos de câmera, tramas paralelas — e à parte artística, com interpretações menos exageradas (no cinema mudo era comum a superinterpretação, por não haver áudio). Mas a parte moral é precária, na verdade é preconceituosa, mostrando os negros como inferiores aos brancos. E a Ku Klux Klan é mostrada como uma entidade justa...
Ouvi dizer que, posteriormente, Griffith se desculpou por ter realizado produção tão revoltante.
Por desencargo de consciência, admito que Griffith livrou a cara de Abraham Lincoln, concedendo ser ele um homem bom, o “Grande Coração”, que indultou o personagem da família sulista conhecido como o “Pequeno Coronel” que, ao final da guerra, foi condenado à morte. A mãe do rapaz suplicou a Lincoln e este assinou o indulto.
No elenco aparece a famosa Lillian Gish, que teve uma carreira muito longa, que chegou à década de 1960; além de vários cineastas que aparecem atuando: John Ford, Raoul Walsh, Eric von Stroheim e Louis B. Mayer.
Rio de Janeiro, 5 e 6 de abril de 2024.