Nas últimas semanas, uma operadora de serviços de *streaming muito conhecida pelos brasileiros (por causa da ampla variedade de filmes que disponibiliza para os assinantes, em seu catálogo) lançou 

"Predestinado".

 

Para os amantes e propagadores do espiritismo de Allan Kardec o filme é uma preciosidade. Para os cinéfilos, um bom enredo com roteiro e produção rasos.

 

Trata-se da história de um dos grandes ícones brasileiros, nascido e criado em Congonhas (minha cidade natal) cuja mediunidade causou alvoroço, devoção e até o encarceramento do então protagonista. Estrelado por Danton Mello.

 

Como não vivi à época, cerco-me de histórias que foram contadas pelos seus descendentes e pelo acervo cultural disponibilizado em museu com seu nome, onde "milagres" são atribuídos à Deus, mas por intermédio de Dr. Fritz, médico responsável pelas cirurgias espíritas realizadas por "Zé Arigó".

 

Disfarçando o pano de fundo que o filme revela sobre a prática do espiritismo e a as cirurgias espirituais (que foram considerados "charlatanismo", crime tipificado no Código Penal brasileiro) e sendo o mesmo baseado em fatos reais, ouso abordar alguns pontos.

 

O primeiro trata-se da insatisfação do protagonista em ter sido escolhido para a missão de "curar pessoas". O homem chora, se nega, grita, sofre. É para ele, inicialmente, como se fosse uma sentença de morte.

 

O segundo, o papel da igreja católica na criação de um ambiente de hostilidade para com ele, seus ajudantes e a família. Sua mulher Arlete, foi exposta em meio à dezenas de fiéis, numa celebração eucarística, como se ela, a mulher, tivesse o dever de acabar com a dita "farsa".

 

Terceiro, o papel dos médicos que se revoltaram em associações, usando dos atributos legais e, pressionando a Igreja, detentora de grande poder, a acabar com "esse des(serviço)." 

 

Mas há algo impactante nos relatos- descrições que fogem à realidade e nos deixam boquiabertos -crentes ou não- e também os que professam outro credo, feito eu: havia cortes, retiradas de órgãos físicos e a quase ausência de sangue, mesmo com cortes feitos à mão, sem anestesia, sem profilaxia, sem sala de cirurgia.

 

Como toda história tem pontos e pontos, apesar do rigor espiritual-religioso inerente ao contexto, ver as sucessivas investidas da igreja, a surpreendente luta da mulher para a manutenção da casa, o preconceito enraizado e a fé disfarçada, nos fazem refletir sobre a condição humana e suas verdadeiras prisões.

 

Um filme que retrata de forma pontual e precisa a história de um homem que, apesar da força que os fiéis acreditavam que detinha, tinha medo de ficar acordado sozinho.

 

Vale o enredo.

 

 

 

 

Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 10/04/2024
Reeditado em 10/04/2024
Código do texto: T8038738
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