O PERIGO do CASAMENTO de FACHADA (Filme: MAESTRO)
O filme "Maestro" apresenta o ator Bradley Cooper em um papel diferente daqueles aos quais ele se consagrou em Hollywood, deixando de lado o personagem clichê de galã macho alfa, como em "O Sniper Americano". Aqui, em sua estreia também como diretor, Cooper interpreta o célebre maestro e compositor Leonard Bernstein, e o filme mostra todas as idiossincrasias desse gênio da música e seu relacionamento de fachada com a bela atriz da Broadway Felicia Montealegre. O casamento deles era de fachada porque Bernstein sempre teve predileção por homens, desde a mais tenra idade.
Leonard Bernstein compôs diversas peças icônicas e trilhas sonoras famosas do cinema, como em "Amor, Sublime Amor" e assinou as composições de "Sindicato dos Ladrões"
A interpretação de Bradley Cooper na pele do maestro é convincente e eu até daria o Oscar para ele se eu não a achasse sua atuação um pouco afetada. Ele interpreta Bernstein de uma forma que parece que a qualquer momento irá proferir uma obscenidade de cunho sexual para chocar o espectador. O filme me pareceu uma egotrip de Bradley Cooper para mostrar que ele sabe dar vida a outras personagens diferentes dos estereotipados machões que ele fazia, e ele de fato me surpreendeu. A personalidade de Bernstein também é egocêntrica; ele é meio hedonista e não se importa com os sentimentos de sua mulher e filhos, só quer frequentar as festas regadas a álcool e pó e sair com seus “bofés”. É cômico notar que o filme tem um clima de tensão erótica no ar, em que a maioria dos personagens são gays enrustidos.
O filme é bicolor e é dividido em duas partes. A primeira é preto e branco e é feliz, mostrando como Bernstein conhece Felicia e se apaixona por ela. A fotografia é belíssima e o figurino é deslumbrante. No meio do filme, ele passa a ser colorido, justamente no momento em que mostra como o relacionamento dos dois é instável, com as diversas traições por parte de Bernstein com rapazes jovens, gerando conflito no casamento e desconfiança por parte dos filhos do casal. Vale lembrar que este não é o primeiro filme a usar esse artifício de ser preto e branco e colorido ao mesmo tempo. Filmes como "A Espuma dos Dias" e "Asas do Destino" já usavam esse expediente anteriormente. Mas nesses dois casos, esse recurso está intrinsicamente ligado à trama; por exemplo, a falta de cores nos dois filmes mostrava um momento conturbado da trama ou a falta de sentimentalismo no personagem, e o momento colorido, pelo contrário, mostrava os momentos de alegria. Agora em "Maestro", tudo parece muito gratuito. Eu acho que para o filme se articular melhor artisticamente, ele deveria apresentar os momentos de felicidade do casal coloridos e os de infelicidade em preto e branco, mas em "Maestro" é o contrário.
A fotografia do filme é muito bonita e a forma de contar o filme é original, a todo momento quebrando a quarta barreira do espectador com saltos temporais muito interessantes. Porém, achei o ritmo um pouco lento, e isso vindo de um grande fã dos filmes de Antonioni. Também achei Leonard Bernstein um personagem pouco interessante para fazer um filme inteiro dedicado a ele, tanto é que Bradley teve que focar mais em seu relacionamento de fachada para dar profundidade a ele. Mas sua genialidade é inquestionável, mesmo que seja apenas uma figura homossexual, egocêntrica e infiel.