FICÇÃO AMERICANA - UM FILME SOBRE HIPOCRISIA

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O ator Jeffrey Wright interpreta um escritor talentoso, mas rechaçado pelo mercado editorial em função de suas obras não retratarem, o que é dito no filme, não retratarem bem a vida dos afro-americanos.

Detalhe: o personagem de Jeffrey é negro, como não poderia deixar de ser, pois o ator também o é (felizmente não foi o Capitão Nascimento (Wagner Moura) quem dirigiu esta obra, pois ele colocaria o Selton Mello para o papel).

Então, cansado dessa abordagem editorial, o escritor escreve algo em tom pastelão e inclui todos os estereótipos negros que a sociedade acredita serem reais: violência policial, racismo, pobreza, famílias desestruturadas, tráfico de drogas, analfabetismo, vícios, rap etc.

E para surpresa apenas do próprio e seu editor idealista, o livro besteirol torna-se um best seller e ele fatura milhões de dólares.

Tudo bem, a ideia não é nova, porém, o filme traz em segundo plano a família do escritor e seus problemas reais. Seus irmãos são médicos, o pai era médico, a mãe está idosa e com alzheimer, o casamento dos irmãos não vingou, um deles é homossexual e viciado em heroína, uma família de classe média alta com bons empregos e excelente educação, algo muito distante da "realidade" afroamericana tão adorada pela sociedade branca que passou a amar os negros em decorrência de uma alegada necessidade de reparação, mas que de fato não repara nada, apenas perpetua a discriminação.

Fazendo o contraponto, existe a personagem Lorraine que, fica subentendido, sempre foi a criada da família negra e continua com eles até o momento, inclusive, a empregada os considera como família, mas na hora do almoço, ela serve a comida, mas não almoça junto. Algo muito sutil que diz muito sobre a relação emprego-patrão não ser sobre a cor da pele, mas inerente ao trabalho.

A mensagem do filme é sobre saber diferenciar entretenimento fictício e realidade, uma vez que com base em narrativas sobre isso ou aquilo, alguns pretendem classificar isso ou aquilo como opressor ou vítima, quando no mundo real, somos todos vítimas e agressores em momentos distintos.

Um filme muito bom premiado com o oscar 2024 de melhor roteiro adaptado, pois se baseia no libro Erasure de Percival Everett (2001), além de ter sido indicado em outras quatro modalidades: melhor filme, melhor ator, melhor ator coadjuvante e melhor trilha sonora.

Abaixo segue uma crítica excelente (Rafael Braz, Substack.com) que resume bem a película:

"Ficção Americana” lida com a culpa do branco supostamente progressista, mas que só consome esse tipo de “narrativa negra”.

É isso.

Olisomar Pires
Enviado por Olisomar Pires em 29/03/2024
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