The Guitar Mongoloide - Ou o Mongoloide do Violão

Ruben Östlund, que ganhou a Palma de Ouro por “Triângulo da Tragédia” e por “The Square”, tinha que começar de algum lugar. Ele também dirigiu o excelente “Força Maior”, que tive o privilégio de ver no cinema na Mostra Internacional de São Paulo de 2015. E o começo dele se deu com este “The Guitar Mongoloid”. Este é um filme meio documentarizado, com atores não profissionais que interpretam a si mesmos. Na estética, ele lembra um pouco o outro movimento escandinavo ao lado, na Dinamarca, concebido por Lars von Trier e Thomas Vinterberg, o Dogma 95. Esse movimento propunha “regras” estritas para a criação de filmes, com o objetivo de retornar à simplicidade e à honestidade na produção cinematográfica. As “Regras do Dogma 95” incluíam o uso de câmeras de mão, filmagens em locações reais, som direto (sem pós-produção), entre outras diretrizes destinadas a desafiar as convenções cinematográficas tradicionais.

 

Embora nesse filme de Östlund não tenha todos os elementos propostos por esse movimento, como a câmera na mão, optando por uma câmera mais estática, mesmo assim nós podemos observar os cenários no meio da rua e som direto, por exemplo. “The Guitar Mongoloid” conta a história de alguns personagens que vivem na cidade fictícia Jöteborg, notavelmente semelhante à vida real em Göteborg. O personagem principal é um garotinho de aproximadamente 10 anos, bem feinho, cara de pentelho, e não só a aparência, ele de fato é um pestinha. Ele tem um violão que ele toca desordenadamente, não sabendo sequer 3 acordes, emitindo dele tons dionisíacos e de fazer inveja a flauta de Pã. Ele cria canções simples da sua própria cabeça e fica nas ruas pedindo dinheiro. As pessoas dão moedas muito mais por dó do que os dotes musicais do garoto.

 

Ele tem um amigo muito mais velho, que também toca violão mas parece ter uma idade mental do mesmo tamanho do seu companheiro mais novo senão até menor. Os dois fazem diversas idiotices inomináveis juntos. E esses não são os únicos idiotas da trama; esse filme poderia muito bem se chamar “Os Idiotas”, assim como o filme do Dogma 95 de Lars von Trier. Todos os personagens parecem ser meio mongoloides. Há uma dupla que quebra garrafas vazias na cabeça, uma gangue de garotos idiotas que andam de bicicleta e têm regozijo de destruir todas as bicicletas da vila depois. Uma mulher meio mongoloide que teve sua bicicleta roubada e destruída justamente por essa gangue de garotos. E alguns outros idiotas que praticamente brincam de roleta russa falsamente com uma arma de um amigo deles.

 

Essa produção lembra muito o cinema independente feito nos EUA por Larry Clarke, Harmony Korine ou Gus Van Sant. Mas, honestamente, eu não o recomendaria para ninguém. As cenas podem ser idiotas demais para alguns telespectadores, embora por esse mesmo motivo tenham algo de cômico. A última cena do garotinho soltando um balão feito de saco de lixo e as pessoas pensando que se tratavam de um serviço meteorológico são muito bonitas também. Mas, sem dúvidas, é o projeto mais simples e menos inspirado de Ruben Östlund. Só escrevi sobre ele para fazer valer o dinheiro e tempo despendidos para assisti-lo.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 03/02/2024
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