A Camareira e a “Fetichização”
As duas pessoas que acompanham minhas resenhas cinematográficas nesse singelo espaço literário já devem ter percebido que os filmes que trago aqui não são lá muito pudicos. E agora chegou a vez de escrever sobre 'A Camareira'. Eu não sei o que me atrai nesses títulos, se é a sinopse ou o quê; certamente, não é para admirar a sensualidade das cenas, pois há filmes mais específicos para esse propósito, os quais, há anos, não costumo consumir, devo admitir. Acho que é mais pela expectativa de ver um filme que use elementos eróticos com qualidade. Ou seria um saudosismo do Cine Privé da Band ou de 'Presença de Anita'? Enfim… mas os filmes que retrato são artísticos, o que me dá um álibi.
Nesse, 'A Camareira', é uma história de fetichização, pelo que entendi, e narra o relato de Lynn, uma estranha personagem de hábitos muito peculiares. Ela é camareira de um hotel, trabalhadora, metódica, estranha: ela tem o costume de entrar na intimidade dos hóspedes, seja colocando as suas roupas, algumas peças até bem íntimas, ou se escondendo debaixo das suas camas para escutar suas conversas. Ela me lembra um pouco o personagem Benigno de 'Fale com Ela' na aparência.
Lynn nem sempre se satisfaz só com esses estranhos prazeres; às vezes, ela sai com o gerente do hotel em que trabalha. Ela visita sua casa, um sujeito meio engessado, com quem ela não consegue obter lá muita satisfação, resultando em encontros protocolares ou frios.
Certa feita, ao praticar seu fetiche de se esconder na cama dos outros, ela se depara com o quarto de Chiara, que é uma dominatrix profissional, ela estava atendendo um cliente. O modo peculiar dela de atender o cliente despertou o interesse e a libido de Lynn, e ela encontrou uma forma de anotar o número de Chiara pretendendo um atendimento particular.
Chegando em sua casa, Chiara questiona como ela obteve o seu telefone. Lynn explica que surrupiou no quarto onde trabalha como camareira. E Chiara atende Lynn com seu jeito peculiar, despertando todos os desejos ocultos que ela tinha. Lynn passa a solicitar esses atendimentos com frequência; como ela não tem muito dinheiro, ela vende seu computador, no qual ela assistia a filmes antigos, e também passa a roubar dinheiro da carteira dos hóspedes mais abastados. Chiara cria uma certa química e afinidade com Lynn, e as duas se dão muito bem, conversam, brincam juntas.
Até o dia que Lynn convida Chiara para passar umas férias com ela, que ela nunca tirou na vida, com direito a tudo pago por ela. Mas Chiara apenas dá um beijo no rosto de Lynn como forma de gratidão e se despede dela, sem responder se aceita ou não.
No final do filme, que é bem decepcionante, só mostra a Lynn passando suas férias sozinha na casa da mãe dela, que é idosa, e a última frase que ela diz no filme é que o bom da sujeira é que ela sempre reaparece no dia seguinte. E com essa frase enigmática e sem dar desfecho sobre o rumo da relação das duas personagens, a película acaba.
Achei a história muito pouco verossímil. Como a Lynn consegue ficar uma noite inteira escondida debaixo da cama dos hóspedes e nunca ninguém percebeu? Só quem percebeu uma vez foi por acaso foi justamente Chiara, que olhou de baixo da cama e encontrou Lynn se escondendo para escutar suas relações. Eu também achei as cenas sensuais um pouco vulgares, pra falar a verdade. E o modo de se vestir de Chiara, mais propriamente a sua underwear, não combina muito bem com a figura de uma dominatrix, eu achei. No geral, eu não recomendaria o filme para ninguém. Tudo que você precisa saber está aqui nessa singela crônica. De todos os filmes que vi pela plataforma MUBI, sem dúvidas, esse foi o mais fraco.