A Noite e à Trilogia da Incomunicabilidade

Mais um filme da série que estava gravado no meu receptor há tempos, mas só resolvi assistir agora.

 

A noite compõe a chamada trilogia da incomunicabilidade de Antonioni, cujos filmes são A Aventura, O Eclipse e este, A Noite, que pretendo resenhar.

 

É difícil escrever sobre filmes de arte, porque neles muitas vezes pouca coisa acontece.

 

Ele apresenta semelhanças com o último título sobre o qual escrevi, "Cléo das 5 às 7", pois também se passa em um curto espaço de tempo, acompanhando os personagens ao longo de uma noite e uma manhã. Outra semelhança é que há um personagem em estado terminal, assim como no filme francês.

 

A história segue um casal, Giovanni, um escritor e intelectual (interpretado por Marcello Mastroianni), e Lidia (interpretada por Jeanne Moreau), enquanto enfrentam crises no relacionamento de 10 anos.

 

Os filmes de Antonioni têm um ritmo peculiar, normalmente lento, enfatizando a situação de tédio que os personagens enfrentam. Não que o filme seja chato, mas nem todos saberiam apreciá-lo. Imagino que a pessoa para quem escrevo, inclusive, não gostaria dele.

 

Apesar do título, o filme começa pela manhã, quando o casal Giovanni e Lidia visita seu amigo enfermo, apresentado como um leitor assíduo.

 

Já aqui começa a falta de comunicação entre os dois, e eles se separam. No hospital, uma mulher histérica tenta agarrar Giovanni e ele consente, mas ao relatar essa história para a mulher tempos depois, ele diz que foi totalmente culpa da jovem que o atacou.

 

Após a visita, vão à festa de lançamento do livro de Giovanni, onde o casal novamente não consegue se entender e cada um segue seu caminho. Lidia caminha solitária pelas ruas de Milão, refletindo. No caminho, encontra jovens brigando e ela intervém. Depois, observa jovens soltando foguetes, até que retorna para casa e encontra Giovanni. Os dois saem pela noite juntos, primeiro numa boate onde negros exóticos fazem uma dança lasciva e sensual, depois dirigem-se para uma festa social entre a alta sociedade. Durante a festa, há muitos diálogos sem conteúdo, denunciando o vazio presente na vida dos personagens. O que mais me chamou a atenção foi a ideia de um industrial que vê suas empresas como obras de arte, pensando em si mesmo como um artista que cria valor através de sua criação.

 

Os ricos esnobes se divertem com um jogo inventado por uma das convidadas que se assemelha a bocha. Então, Lidia resolve ligar para o quarto do amigo enfermo e descobre que ele morreu há 10 minutos. Enquanto isso, sob o olhar de Lidia, Giovanni beija Valentina, a mesma convidada que criou a "bocha", filha do proprietário da festa e da casa.

 

Em seguida, Giovanni recebe uma proposta indecorosa do dono da festa para se tornar funcionário de sua empresa, responsável por redigir textos contando sua história. Depois, uma chuva torrencial acaba com a festa. Lidia pega carona com um convidado que tenta beijá-la, mas ela pensa em Giovanni e ignora.

 

Enquanto isso, Giovanni está junto com Valentina e ouve suas aspirações de ser escritora, assim como ele. Mas ele está mais interessado em flertar do que em ouvir.

 

Daí em diante, não acontece muita coisa, além da cena final em que Lidia lê uma carta de amor para Giovanni, que escreveram para ela no passado. Giovanni não reconhece que foi ele mesmo o autor da epístola. Por fim, ele tenta beijá-la deitado na areia, na cena mais icônica do filme, que, inclusive, é capa do cartaz, mas ela diz que não o ama mais. Os créditos sobem.

 

De modo geral, eu achei os personagens tão frios e distantes que em nenhum momento você se identifica com eles. A atuação de Marcello Mastroianni, também como intelectual, não me convenceu. Para mim, ele está muito associado com a imagem de boêmio bon vivant.

 

Assim como nos outros dois filmes que fazem parte da trilogia da incomunicabilidade, A Noite explora o sentimento de vazio da existência, a falta de sentido e propósito da vida em geral, a busca pela identidade e significado pessoal, além de abordar o problema da alienação e falta de comunicação entre as pessoas no mundo moderno. Essas obras são reconhecidas por sua abordagem contemplativa e pela forma como exploram a solidão e a desconexão nas relações humanas.

 

Ficha técnica

 

• Direção: Michelangelo Antonioni

• Roteiro: Michelangelo Antonioni, Ennio Flaiano, Tonino Guerra

• Elenco:

• Marcello Mastroianni como Giovanni Pontano

• Jeanne Moreau como Lidia

• Monica Vitti como Valentina Gherardini

• Fotografia: Gianni Di Venanzo

• Música: Giorgio Gaslini

• Produção: Emanuele Cassuto, Angelo Rizzoli

• Design de Produção: Piero Poletto

• Figurino: Gitt Magrini

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 16/01/2024
Reeditado em 16/01/2024
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