História de um Casamento
No cinema, muitas são as histórias de amor, mas poucos filmes se propõem a mostrar quando o romance chega ao fim e há o momento triste da separação. "História de um Casamento" é sobre isso. Ele narra a perspectiva de um casal, Charlie Barber (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) Barber sobre o término do relacionamento e como esse fato tem influência nos seus filhos e amigos.
O filme começa com Charlie e Nicole em uma espécie de terapia de casal, na qual cada um tem que escrever o que mais gosta no outro. Nicole destaca a emotividade de Charlie, o fato de ser um bom pai, organizado e asseado, além de um bom diretor de teatro. Charlie cita que Nicole é uma mulher forte, que sabe ouvir os outros e é uma excelente atriz. Nicole acha que o mediador, por ser homem, toma mais partido de Charlie, e sai abruptamente da sessão.
A separação é um tema muito delicado, principalmente para os filhos. Quando meus pais se separaram, eu era adolescente indo para a fase adulta. E muitas coisas se passaram como no filme. O fato deles quase não se comunicarem mais, mesmo quando os dois estavam pegando o mesmo metrô, é bem real. Fiquei sem falar com meu pai por um bom tempo, por diversos motivos, e só retomei a relação com ele muito tempo depois. Hoje nos damos muito bem. E a família permaneceu unida, assim como a família de Charlie e Nicole também. Mas o filho deles, Henry Barber, não teve a sorte de ter o suporte de um irmão mais velho, assim como eu tive.
Agora, voltando para a história, Nicole, ao separar-se, decide tomar outros rumos na carreira e se torna atriz de TV na Califórnia. Antes, fazia teatro em NY atuando nas peças de Charlie. Lá em Los Angeles, Nicole é apresentada a uma advogada, que faz as vezes de conselheira também porque já passou por situação parecida de divórcio. Para essa advogada, Nicole fala sobre como rompeu um relacionamento para ficar com Charlie. E ela destaca um ponto importante nas conversas com ele, que, segundo ela, era melhor do que sexo. Mas narra também a maneira como ela foi se sentindo diminuída dentro do relacionamento deles, o que culminou no ponto da separação. Além disso, há desconfiança de infidelidade por parte dele. A advogada, juntamente com ela, opta por intimá-lo oficialmente. Apesar de tudo, os dois continuam tendo uma relação amistosa e cuidam do filho juntos.
Já o advogado que Charlie procura inicialmente é um sujeito pragmático que visa tirar o máximo de proveito de seus oponentes, por isso ele logo desiste dele. Enquanto ele tenta arrumar outro advogado, tem que lidar com o filho que anda meio intransigente por estar muito apegado à mãe. Felizmente, Charlie encontra um bom advogado, que o trata como humano. Concomitantemente, as relações entre Charlie e Nicole para custódia do filho tornam tudo mais complicado, e os dois se desentendem. Nicole começa a se relacionar com outras pessoas.
Charlie tem que ficar alternando entre sua cidade, NY, e onde o filho e a mulher moram, LA. Desapontado com o desempenho do advogado contratado, Charlie retorna para o primeiro que contratou, um sujeito mais durão. As coisas entre Charlie e Nicole complicam-se de vez e eles lavam a roupa suja numa discussão que era para ser trivial, entregando grandes atuações de ambos os atores no momento mais pungente da trama.
A última cena, na qual Charlie lê para seu filho com dislexia aquela carta com seus pontos positivos do começo do filme, também é muito marcante. Nos aspectos técnicos, o filme é muito feliz em mostrar as complicações inerentes a um divórcio e como isso afeta todos ao redor. A maneira de contar isso é através de longas cenas que nos remetem ao teatro, como é a profissão dos dois envolvidos nesse enredo. Durante a história, ele é cuidadoso em nos fornecer todos os elementos para entendermos os argumentos dos advogados na disputa pela guarda da criança. Gostei muito desse filme, que aborda com precisão um tema tão delicado como é um divórcio.