O pequeno Jim Hawkins, juntamente com o pirata Long John Silver, domina a trama.
A ilha do tesouro: uma obra-prima de Walt Disney
A ILHA DO TESOURO, UMA OBRA-PRIMA DE WALT DISNEY
Miguel Carqueija
Resenha do filme “Treasure island” (A ilha do tesouro). Walt Disney Productions, Estados Unidos/Inglaterra, 1950. Produção executiva: Walt Disney. Produção: Pearce Perce. Direção: Byron Haskin. Roteiro: Lawrence Edward Watkin. Adaptação do romance de Robert Louis Stevenson. Música: Clifton Parker. Com a The Royal Philarmonic Orchestra conduzida por Muir Mathieson. Fotografia: F.A. Young B.S.C. Projeção: 88 minutos.
Elenco:
Jim Hawkins........................................Bobby Driscoll
Long John Silver..................................Robert Newton
Capitão Smollett.................................Basil Sidney
Squire Trelawney................................Walter Fitzgerald
Dr. Livesey.............................................Denis O’Dea
Capitão Billy Bones..............................Finlay Currie
George Merry......................................Ralph Truman
Israel Hands.........................................Geoffrey Keen
Ben Gunn.............................................Geoffrey Wilkinson
Blind Pew.............................................John Laurie
Black Dog..............................................Francis De Wolff
Mr. Arrow.............................................David Davies
Long John Silver, pirata disfarçado em cozinheiro, capta a confiança de Jim.
“A ilha do tesouro”, brilhante adaptação de uma obra clássica do grande autor escocês Robert Louis Stevenson (1850-1894), é o primeiro filme de longa-metragem de Disney totalmente em imagem real. WD já havia filmado com o mesmo ator menino Bobby Driscoll em 1946 (Canção do Sul) e 1948 (Meu querido carneirinho) mas as duas películas incluíam cenas em desenho animado.
Bobby Driscoll é tão perfeito em sua atuação de criança que dói saber que ele morreu cedo em circunstâncias dolorosas de penúria e esquecimento.
O assassinato de Arrow passa por acidente.
O elenco de “Treasure island” é integralmente masculino. Gira tudo em torno do mapa de um tesouro enterrado em alguma desconhecida ilha das Antilhas, em 1765. Procurado por bucaneiros do falecido Capitão Flint, estaria na posse de certo Capitão (também pirata) Billy Bones. Este é localizado por Black Dog e Blind Pew numa perdida taverna de estrada que, na ocasião, na ausência da dona, era atendida por seu filho, o garoto Jim Hawkins (Bobby Driscoll).
Billy Bones estava em péssima condição física (tudo indica que devia estar com cirrose ou coma alcoólico) e não sobrevive; e diante da ameaça do Black Dog (Cão Negro) e do pirata cego, pede ao menino que vá buscar ajuda.
Long John Silver toma Jim como refém.
Assim começa a aventura, pois Billy Bones entregara o mapa a Jim. Aí se reúnem o médico Livesey, sujeito centrado, o advogado Trelawney, fanfarrão, e o severo Capitão Smollett. Jim Hawkins vai como grumete. Um navio é fretado e a maior parte da tripulação é arranjada pelo espalhafatoso cozinheiro Long John Silver (Robert Newton, interpretação espetacular), que anda de muleta, por só ter uma perna. Ele tem um papagaio de estimação chamado (vejam só) Capitão Flint.
Deve ter sido difícil atuar o tempo todo fingindo que só tem uma perna.
Embora antes de morrer Billy Bones houvesse perguntado se “o homem de uma perna só” estava com Black Dog, as suspeitas de Jim logo se esvaecem. Silver é simpático em sua bizarrice e trata logo de conquistar a amizade do pequeno. Jim torna-se amicíssimo de John Silver — até descobrir sua traição. Quase toda a tripulação era de piratas.
Curiosamente Black Dog e Blind Pew não reaparecem.
Com o Capitão Smollett, o Dr. Livesey, o advogado Trelawney e dois marujos leais, além de Jim Hawkins, cercados numa pequena construção existente na ilha, Long John Silver tenta sem êxito convence-los à rendição. Na verdade ele faz jogo duplo, por ter problemas com seus piratas e ter se afeiçoado a Jim.
Os personagens são em geral interessantes: é o caso de Ben Gunn, que foi abandonado por cinco anos na ilha do tesouro e ao ser descoberto por Jim Hawkins já está meio louco. Há o pirata George Merry, mais do tipo selvagem e que cria uma desavença com Long John Silver, que embora cruel faz uso de métodos mais sutis. Os piratas disfarçados querem eliminar o imediato Arrow, considerado um obstáculo. É significativa a cena em que, com seu jeito zombeteiro, Silver, discutindo com Merry, o proíbe de por a mão em Arrow: “O senhor Arrow é meu amigo e eu vou cuidar dele”. Em suma, Silver consegue embriagar Arrow e o joga do navio: um crime sem violência...
A narrativa porém vai induzindo simpatia pelo pirata perneta, por ele acabar estimando Jim e opondo-se a que o menino seja assassinado pelos outros piratas. Diversas reviravoltas acontecem com o pequeno bastião existente na ilha mudando de ocupantes e Jim, demonstrando uma coragem invulgar para um menino, vai sozinho ao navio, ocupado por dois piratas, disposto a impedir que usem a embarcação para os seus propósitos.
Se não fosse Long John Silver, o perfeito anti-herói, Jim Hawkins dominaria a história. A ambígua amizade entre os dois determina o desfecho antológico deste filme maravilhoso. Um final que eu não posso revelar.
Rio de Janeiro, 12 de janeiro de 2024.
Cena espetacular de "A ilha do tesouro". Criança versus adulto: o duelo mortal entre Jim Hawkins e o pirata Israel Hands.