GEMMA BOVARY - A vida Imita a Arte

Ah, os franceses nunca me decepcionam quando o assunto é cinema. O protagonista desse filme, Martin Joubert, escreveu que Flaubert era genial: ele sabia transformar uma história simples, como é "Madame Bovary", em uma obra de arte. Ele inventou o estereótipo da mulher entediada, cujo único objetivo de vida é alcançar o amor. Impossível não pensar nas pessoas que encontraram o amor, mas não fazem nada para vivê-lo, mas divago...

 

A trama deste filme segue Gemma, uma britânica linda e deslumbrante que se muda para a Normandia com seu marido, mesmo local onde Flaubert escreveu "Madame Bovary". E as consequências não param por aí. O nome dela é Gemma Bovery e o nome do seu marido Charles, idêntico ao romance de Flaubert. Ela estava cansada da vida em Londres e resolveu se mudar para um lugar mais bucólico. Não demora muito para que ela chame atenção de Martin Joubert, um morador local que se encanta com a sua beleza e com sua semelhança à personagem famosa da literatura. E ele assume por ela um sentimento de amor platônico, e começa a a seguir todos os seus passos. Apesar disso, sem querer, ele acaba apresentando Gemma para Hervé de Bressigny, um estudante de direito rico de família aristocrática, que faz as vezes do Rodolphe Boulanger do romance de Flaubert. E a Gemma, assim como Emma, comete adultério com esse jovem rapaz.

 

Imbuído de um sentimento de ciúmes, Martin manda uma carta para Gemma, copiando as palavras que Rudolphe escreveu para Emma ao terminar com ela, passando por Hervé, rompendo com Gemma. A carta surte efeitos porque os dois amantes separam-se. Eu não vou contar o filme todo. Mas o que eu posso dizer é que a vida (quase) imita a arte.

 

Apesar de o filme ser inteligente e de qualidade, com uma atuação impecável do ator que faz Martin, e ter citações diretas à obra quase homônima, ele me deixou muito triste, assim como o romance de Flaubert. Eu explico porquê. Na obra do escritor francês, há uma crítica aos romances que a personagem Emma Bovary constantemente lê. Flaubert satiriza o romantismo exagerado e idealizado que muitas vezes é retratado nesses romances. Emma, influenciada por suas leituras românticas, desenvolve expectativas irreais sobre o amor e a vida, buscando incessantemente uma existência mais emocionante e apaixonada. A crítica de Flaubert reflete não apenas sobre o gosto literário de Emma, mas também sobre as ilusões românticas que podem levar a consequências desastrosas na vida real. Então, eu faço um paralelo com a minha própria vida. Eu fico envolto na imaginação proporcionada pelos livros e filmes que vejo, esperando também encontrar o amor, mas inutilmente. E me pergunto para quê tudo isso serve? E é deste modo que a vida imita arte, igual ao subtítulo desse excelente filme francês.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 12/01/2024
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