Cézanne e Eu
Eu não entendo muita coisa de arte. Mas eu gosto de escrever sobre o que eu não conheço.
“Cézanne et Moi“ narra a relação do pintor francês Cezanne com o escritor ítalo-francês Emiliano Zola.
Eles têm uma relação de longa data, desde que eram crianças. A história conta a forma que Cezanne protegia Zola na escola, que sofria bullying na época, devido ao fato de ser mestiço, por ele ser de família de imigrantes italianos. A obra tem saltos de temporalidade, nela, misturam-se futuro e passado. Ela mostra a idade jovem dos dois, o círculo de amizades deles na época, composto por grandes pintores e artistas emergentes, como os Renoir, Manet, além do próprio Cezanne e Zola, que durante esse período era só um poeta desconhecido, o mais pobre do grupo, que trabalhava em uma editora.
As vidas de Cezanne e Zola não poderiam ser mais díspares: enquanto Cezanne era de uma família tradicional francesa de muitas posses, Zola era filho de imigrantes italianos sem dinheiro, órfão de pai. O pai de Cezane não acreditava no futuro do amigo do filho como escritor. O aspecto que eles se encontram é pela relação de amor com arte e a literatura. Porém, a sorte de Zola vira e o filme mostra ele numa vida luxuosa já reconhecido como escritor famoso tempos depois.
Cezanne vai tirar satisfação com ele sobre um livro que ele escreveu no qual descrevia com precisão a vida idílica e bucólica que os dois levavam quando eram crianças. O filme também retrata as contradições dos dois personagens: talvez o livro mais famoso de Emile Zola seja "Germinal", que narra a história da briga de trabalhadores de uma mina de carvão por melhores condições de trabalho. Ele foi um dos precursores a dar voz a esse tipo de personagem. No entanto, posteriormente ele converteu-se numa vida burguesa e se tornou exatamente aquilo que ele denunciava nos seus livros. Fato esse que ele mesmo admitiu tempos depois. Essas são as acusações que Paul faz contra Emile, e motivos das turbulências em sua relação.
Enquanto isso, Cezanne, por outro lado, ainda lutava para conseguir comercializar os seus quadros. Um sinal de que as coisas mudaram: o pai de Cezanne começou a admirar o sucesso de Zola, enquanto desconfiava do talento do seu próprio filho, então um desconhecido. E quem sustenta Cezanne, a medida que suas obras não davam dinheiro, é Zola, que já estava tendo lucro com seu trabalho.
O filme relata também a infidelidade de Cézanne com sua mulher, que preferia procurar as mulheres da vida em vez de se relacionar com ela. Aliás, também é mencionado a relação dos dois com Gabriele, uma vendedora de flores simples, por quem Zola era apaixonado, mas que namorava com Paul, e, depois ela deixou de namorar Cezanne, e casou-se com Zola. Ela diz que foi a melhor decisão que já tomou na vida, porque ela acusa Cezanne de ser incapaz de amar alguém, assim como sua mulher também disse.
A película ainda ilustra como Cezanne se autosabotava, com seus ataques intempestivos e em não querer figurar entre as figuras ilustres da arte, o que prejudicava seu trabalho. Porém, mesmo com todos os empecilhos durante sua carreira, ele afirmava que jamais deixaria de pintar. O reconhecimento de Cezanne só veio postumamente, lembrando Van Gogh nesse aspecto.
Apesar da relação conturbada muitas vezes entre os dois, Paul nunca escondeu sua admiração por Emile, evidenciada quando ele diz para este que gostaria de pintar tão bem quanto ele escrevia. E, por outro lado, a vida de Cezanne era inspiração para um de seus livros.
Eu gosto dos artistas, mas honestamente a vida exibida no filme não causa nenhum tipo de inveja em mim. Hoje eu prefiro a vida doméstica em família de trabalhadores como meu irmão. E é esse tipo de vida sem luxo que Zola mais almejava, porque ele via a si mesmo como um vendido que escrevia apenas por dinheiro e incapaz de gerar um filho, por ser estéril, o que ele conseguiu, com outra mulher que amava, o qual era mera serviçal de sua casa; enquanto Cezanne foi frustrado enquanto artista em vida. Só depois de morto, viria sua consagração, sendo citado como o "pai de todos os pintores", por Picasso.
No final, ficou na minha cabeça uma frase que Zola escreveu para Cezanne e que caberia para descrever minha relação com a pessoa que amo: “nós nos conhecemos muito bem para que nossa amizade não seja eterna”.