Spotlight: Segredos Revelados. Um filmaço!
Eu não ficava tão empolgado com um filme de jornalismo investigativo desde que vi “Todos os Homens do Presidente” de Alan Pakula. A história é corajosa: conta sobre a pequena agência chamada Spotlight de um jornal de Boston, que investiga milhares de denúncias contra padres pedófilos da Igreja Católica. Nem precisa dizer que é baseado em fatos reais e o tema é atualíssimo, apesar de muito delicado. Ainda hoje, há inúmeras acusações contra padres católicos.
O filme narra como a agência Spotlight conseguiu provas contra a Igreja Católica de maneira envolvente, prendendo o espectador desde o início, embora a história seja simples. Eu tenho dificuldade em acompanhar filmes e séries de investigação devido à quantidade de informações e nomes que você tem que assimilar, mas este me prendeu desde o começo. Também é digno de parabenização o trabalho de mise-en-scène do diretor, cujas atuações parecem ser de jornalistas reais, sem exagerar em nada.
Uma grande reflexão que fica é como o trabalho de jornalista pode ser árduo. O filme é muito inteligente ao mostrar o trabalho de sair na rua atrás de informações, coletando provas e evidências. Também é interessante a decisão do novo chefe de redação do jornal de Boston em decidir a linha de investigação de denunciar todo o esquema de pedofilia de cima para baixo, ou seja, acusar primeiro as instituições e o sistema do que pessoas individuais.
Outro ponto são as entrevistas que os jornalistas conseguem, das confissões de um certo padre, que em nenhum momento vê o que fez como algo errado, sem nenhuma consciência do crime atroz que cometeu. Essa situação é muito fidedigna, pois é algo que deve ocorrer mesmo. O número levantado de padres abusadores também é assustador, cerca de 90, de acordo com o filme.
Outro dado alarmante é que apenas 50% dos padres praticam o celibato, imposto pela igreja. Apesar de não ser a maioria que pratica a pedofilia, esse número é assustador. A Igreja Católica é uma instituição que respeito bastante por sua tradição, mas reconheço e condeno os crimes que cometeu e acobertou, todos comprovados.
Acho que esse problema de pedofilia na igreja é milenar, e eu acredito que passa muito pela imposição do celibato aos padres. Dizem que essa imposição se dá ao fato de que, se o padre for casado, consumirá mais dinheiro da igreja. Mas acho que a alternativa seria a flexibilidade para que os padres possam se casar. Esse assunto é delicado. Como mudar uma tradição de uma instituição tão antiga? Mas a possibilidade de os padres poderem ser iguais aos pastores evangélicos poderia funcionar, e mesmo assim continuarem santos.
Eu acho que é da natureza do ser humano ter desejo sexual; o contrário é o anormal. Eu duvido muito que os padres não o sintam ao longo da vida. E é uma grande dúvida que eu tenho: como eles lidam em relação à masturbação? Eu acho que essa é uma regra que os padres, muitas vezes, violam. Por isso, eu sou a favor de que os padres se casem e que a masturbação não seja considerada pecaminosa, para que eles não descontem suas lascividades no bem mais precioso que existe na face da terra, que são as crianças. Viu como é um filmaço? Este foi o texto mais sério que já produzi no Recanto das Letras, e foi "Spotlight: Segredos Revelados" que me suscitou todas essas reflexões.