Estou Pensando em Acabar Com Tudo
Esse filme, do talentoso diretor Charles Kaufman, conhecido por "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" e "Quero Ser John Malkovich", pode não agradar a todos, inclusive a mim. No entanto, possui as características marcantes desse roteirista/diretor: é muito bem escrito, original e abstrato, repleto de citações de poemas, livros e pensadores. E filmes, e peças de teatro, e canções… Mas, sinceramente, ficou acima do meu entendimento intelectual, eu acho. A obra me pareceu de um intelectualismo pedante para esconder o vazio da obra em si.
O filme é composto de longas cenas e diálogos, narrando a ocasião em que Lucy vai jantar pela primeira vez na casa dos pais de seu namorado, Jake. Ambos são pessoas muito inteligentes, físicos pelo que entendi. Ela ainda escreve e gosta de pintar, enquanto ele é culto e instruído em poesia. A cena que mostra o trajeto deles de carro à casa dos pais de Jake dura cerca de 30 minutos, onde trocam ideias sobre poesia. Lucy recita um monólogo que escreveu, enquanto tem um diálogo interno questionando a decisão de conhecer os pais de Jake nesse momento, dado que se conhecem há apenas 7 meses. Além disso, repete a todo momento o título do filme: "Estou pensando em acabar com tudo".
Chegando na casa dos pais de Jake, as premonições se mostram verdadeiras, gerando momentos de certo constrangimento. Os pais de Jake são pessoas muito simples, de hábitos rurais, incapazes de entender completamente a arte de Lucy. O jantar termina, e Lucy vai ver a nevasca, preocupada em voltar na manhã seguinte. Essa é a parte lúcida do filme. A partir daí, as coisas ficam confusas e abstratas. Tive que recorrer ao Google para entendê-lo.
A explicação é que Lucy é uma criação da mente de Jake, que é o protagonista, não o contrário. Baseada em sua projeção de tipo ideal de mulher que ele gostaria de ter, sua imagem é semelhante a uma moça que ele viu certa vez num bar, com quem sequer nunca conversou. Jake imaginou não apenas ela, mas toda uma história envolvendo os dois, como o romance de um livro, abrangendo todo o repertório adquirido durante sua vida, desde livros, pensadores, artistas, filmes, todas as citações que são feitas no filme.
No final, Jake aparece agradecendo um prêmio pela obra fantasiosa que construiu, em um discurso semelhante ao final de "Uma Mente Brilhante". O título do filme, "Estou pensando em acabar com tudo", sugere que Jake planeja o suicídio.
O filme conta essa história por metáforas e símbolos, mas as acusações feitas por mim no início do texto são verdadeiras: parece ser um ego trip do diretor para mostrar "olha como eu tenho muitas referências".
Certamente, a história ganharia muito se não fosse tão hermética e pedante. É o filme mais fraco e menos original que vi de Kaufman, uma vez que é inspirado em um livro já existente. Foram mais de duas horas desperdiçadas, além do tempo gasto pesquisando a explicação sobre o final. Escrevo este texto apenas para alertá-lo a não cometer o mesmo erro.