A “Mula”: Um Último Tributo a Clint Eastwood
Qual a necessidade de se resenhar um filme ruim? E como se faz a resenha de tal filme? Apenas com o objetivo de enganar incautos? Se escrevo essa resenha, é mais em tributo a Clint Eastwood do que à película em si. Eu, que não gosto de quadrinhos, ele é o que mais se aproximou de um herói para mim. Ironicamente, os filmes em que ele se destacava eram sempre interpretando um anti-herói destemido, que não agia de acordo com as leis da moralidade, só as suas próprias.
Paulo Leminski disse que aprendeu as leis da relação homem com homem através dos filmes de John Ford. Eu aprendi com os western italianos de Sergio Leone, cujo ator principal era o Eastwood. Por isso, é difícil ver uma figura notável por sua virilidade e vitalidade envelhecida em "A Mula". Percebe-se, nesse filme, o peso da idade de octogenário. Apesar de ainda demonstrar muita saúde para alguém de quase 90 anos, é impossível não perceber sua curvatura e mãos enrugadas que denunciam sua idade, contrastando com a imagem que ele transmitia quando jovem.
Em "A Mula", Clint Eastwood interpreta Earl, um idoso nos altos dos seus 80 anos, de personalidade bem expansiva, boêmia, amante das mulheres, que se vê falido. Para completar, ele ainda não comparece ao casamento da sua filha, tornando em sua família persona non grata. Com a intenção de recuperar a relação com sua neta e auxiliá-la financeiramente bancando seus estudos, ele aceita o trabalho de mula, sem saber ao certo o que estava transportando: quilos e quilos de cocaína mexicana.
O filme é uma pasmaceira só. Ele é meio que subdividido em capítulos, que são cada corrida que ele faz transportando droga. Só no final há uma reviravolta. Ele recebe uma ligação dizendo que sua ex-mulher está em estado terminal, e Earl, em vez de terminar o transporte, decide ir visitar sua família, redimindo-se de anos atrás ter se ausentado do casamento da sua própria filha. No final, a polícia grampeia o telefone dos traficantes e chegam até Earl, que termina os últimos dias da sua vida no xilindró, mas pelo menos redimido.
Viu, eu contei o fim todo para você não ter que assisti-lo como eu fiz. O filme me pareceu uma última tentativa de dar um papel principal a Clint Eastwood, que entrega uma atuação convincente nesse filme. Apesar de admirá-lo pelos motivos que já citei, temos que concordar que ele não é dos melhores atores que há. Ele se consagrou praticamente sempre interpretando o mesmo personagem, mas, convenhamos, com que maestria. Se não valeu ter assistido pelo filme em si, fico feliz em ter visto uma das últimas atuações dele.
Atualizando: vi que em 2021 ele fez mais um filme. Depois vou procurar assistir. Se for bom, escrevo sobre... mas a sinopse não me chamou lá muita atenção.