Realidade vs Verossimilhança em Woody Allen

Eu quero desenvolver a minha teoria de “realidade” vs. “verossimilhança” à luz de dois filmes de Woody Allen: "Scoop: O Grande Furo" e "Match Point". Primeiro, tenho que dizer o que entendo por realidade e verossimilhança.

Realidade, para mim, são filmes baseados na realidade que retratam a vida cotidiana sem fantasiar muito, como "O Garoto de Bicicleta", dos irmãos Dardenne, ou mais especificamente "Match Point" de Woody Allen, que é o filme que desejo abordar. Verossimilhança, ao contrário, são filmes que, apesar de não serem baseados na realidade e usarem artifícios de fantasia, seguem uma ideia lógica, verossímil, sem furos. Este é o caso de "Scoop: O Grande Furo".

Esse artifício é encontrado nas peças de Shakespeare, por exemplo: "Macbeth", "A Tempestade", "Hamlet". Apesar de figuras fantásticas, como o espírito do pai de Hamlet ou os da ilha da Tempestade, ou as bruxas de Macbeth, o roteiro segue um encadeamento lógico que faz sentido com a realidade e o contexto da história, sem furos no enredo. É o caso de "Scoop", que conta a história de uma jornalista interpretada por Scarlett Johansson, que recebe uma dica de um grande furo de um morto, Joe Strubell, ícone do jornalismo investigativo, sobre a suposta identidade do assassino do tarot, o personagem Peter Lyman.

Sondra Pransly, uma estudante de jornalismo, decide investigar com base na dica dada pelo morto, que a recebeu enquanto estava sendo carregado no navio pela própria morte. Ele se materializou durante uma apresentação do mágico, tendo a Sondra como convidada para participar do show, e revela a identidade do assassino do tarot. Os dois, o mágico e Sondra, investigam esse furo juntos, só que Sondra acaba se apaixonando por Peter Lyman.

Apesar dos elementos de fantasia na superfície de um mundo real, o roteiro segue uma linha coerente e lógica, o que chamo de verossimilhança.

Há histórias baseadas na realidade que não são verossímeis devido a furos lógicos no roteiro, como "Good Boy" e "Simplesmente Acontece", dois exemplos que já resenhei aqui.

"Match Point", por outro lado, é um filme mais embasado na realidade, explorando questões existenciais com reviravoltas surpreendentes, afastando-se das típicas comédias de Woody Allen. O filme explora temas de sorte, destino e moralidade, contando a história de um ex-tenista irlandês que ascende socialmente ao namorar uma moça de família abastada. Tudo vai bem até que ele se apaixona por Scarlett Johansson, uma bela e sedutora atriz frustrada que namora o irmão que apresentou o irlandês tenista à moça rica. Assim como "Hannah e suas Irmãs", é um ótimo exemplo de obra baseada na realidade, sendo real e verossímil, portanto, verossimilhante.

Embora os conceitos de verossimilhança e realidade possam se confundir, ou um mesmo filme ter elementos de ambos, acredito que um bom roteiro é sempre o verossimilhante, tendo um desenvolvimento lógico e plausível, mesmo que não seja baseado na realidade. Nem todo filme real é verossimilhante, e claro, nem todo filme verossimilhante é real.

Espero ter sido feliz ao descrever as diferenças entre o conceito de “realidade” e “verossimilhança”. E não lhes confundido mais ainda.

Obrigado a todos que me leram até aqui (provavelmente duas pessoas) e um feliz ano novo!

No ano que vem tem mais resenhas de filmes, séries e livros, fragmentos filosóficos, e desilusões amorosas.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 31/12/2023
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