Rapunzel na versão Disney

 

RAPUNZEL NA VERSÃO DA DISNEY

Miguel Carqueija

 

 

Resenha da animação de longa-metragem “Tangled” (Enrolados), baseada no conto de fadas “Rapunzel”, dos Irmãos Grimm. Walt Disney Pictures, EUA, 2010, 100 minutos. Produção executiva: John Lasseter e Glen Keane. Produção: Roy Conli. Direção: Nathan Grono e Byron Howard. Roteiro: Dan Fogelman. Música: Alan Menken. Cançõies: Alan Menken (música) e Glenn Slater (letras). Intérpretes das canções: Mandy Moore, Donna Murphy, Brad Garrett, Jeffrey Tambor, Zachary Levi und Ensemble, Grace Potter.

Elenco de dublagem:

Rapunzel.............................Mandy Moore

Flynn Rider..........................Zachary Levi

Mãe Gothel.........................Donna Murphy

Irmãos Stabbington............ Ron Perlman

 

 

Este desenho segue uma linha de muito humor às vezes até exagerado — é meio grotesca a cena em que Rapunzel e Flynn vão parar numa estalagem cheia de indivíduos perigosos, mal-encarados e enormes — o seu tamanho gigantesco é um exagero desnecessário. Mas todos eles tinham seu lado humano e seus sonhos, como o sujeito que queria ser pianista e, incentivados pela Rapunzel, acabam chegando lá.

A história de Rapunzel é sobejamente conhecida entre os contos de fadas: a garota mantida reclusa numa torre, sendo nesta versão uma princesa perdida, e sua captora, que finge de mãe, sobe e desce pelos imensos cabelos que a menina tem de jogar lá de cima. Porém é uma Rapunzel muito estilizada e cheia de bossa: alegre, sapeca, descalça, dona de olhos enormes e expressivos, no estilo dos animês, onde o tamanho dos olhos reflete a pureza da personagem.

Como de hábito a ação se passa num pequeno reino medieval. A rainha estava grávida porém muito doente, e o rei mandou procurar uma flor de luz, que tinha a energia solar e podia trazer a cura. Mas quem possuía essa flor era Gothel, mulher egoísta e má, talvez feiticeira, que sobreviveu durante séculos. Como lhe roubaram a flor (e não se pode dizer que o rei agiu certo, deveria tê-la indenizado) a mulher resolveu penetrar clandestinamente no palácio (coisa que não se afigura muito fácil) e, destruída a flor que fôra usada como remédio, tratou de se apossar de um cacho dos cabelos dourados do bebê. Ao ser cortado porém o cacho perdia a cor e o poder. Então ela roubou a menina e criou-a como filha.

Esse é o argumento básico. O diferencial nesta versão produzida por John Lasseter (produtor de animações de alto nível, como as da Tinkerbell ou Sininho) está no ladrão Flynn que, perseguido por esbirros, pelos colegas de roubo e até por um cavalo guerreiro e farejador, acaba se refugiando na torre e conhecendo a Rapunzel. Flynn é aquele tipo de herói nada perfeito, na verdade um fora-da-lei capaz até de enganar os cúmplices e que havia roubado, no palácio real, a coroa da desaparecida princesa.

Flynn é derrubado por Rapunzel, que o acerta com a frigideira. Aliás ela porta a frigideira um bom tempo como se fosse uma arma e tanto. E ela entra em acordo com Flynn, que concorda em ajudá-la a fugir da torre.

Aliás quem construiu essa torre escondida pela vegetação e com que meios?

Rapunzel — nome de uma planta europeia também chamada rampion, ou flor de campânula (é flor comestível) — é um conto de fadas dos Irmãos Grimm, que por sua vez se inspiraram em histórias mais antigas e na tradição popular. O filme de 2010 é um pouco do próprio fundador do estúdio, o genial Walt Disney. Ele visava sim filmar tudo o que era contos de fadas ou fábulas de maior expressão, como “Branca de Neve e os sete anões”, “Cinderela”, “Peter Pan” e “A bela adormecida”. A história de Rapunzel é um de seus projetos engavetados. Porém John Lasseter, com seu capricho artesanal, tornou o projeto em realidade.

A Rapunzel dessa animação — que evidentemente só por remota origem é obra de Walt Disney, já que a história foi trabalhada efetivamente a partir de 2007 (Walt morreu em 1966 e não sabemos o que foi conservado do plano original; se é que a documentação não foi destruída na atual orientação iconoclasta da empresa). Vemos que o “alívio cômico” acompanha do princípio ao fim — por exemplo, o camaleão Pascal, xerimbabo da Rapunzel; e o cavalo Maximus, que banca o cão farejador e, cativado por Rapunzel, abana a cauda como cachorro. O próprio Flynn, com suas malandragens, é cômico, bem como a Rapunzel com sua sapequice.

 

Porém há um substrato realmente lindo na história, a começar pela extrema beleza estética e o romantismo, por exemplo, na viagem de barco, na imensa expressividade da heroína e no seu caráter comovente. A sutileza com que ela vai mostrando os seus sentimentos profundos. Também o fato dela ter poderes de cura com os seus cabelos de 21 metros.

A película é uma jornada em busca da liberdade e da identidade. Rapunzel quer saber o que são as “estrelas” que, vistas da torre, só aparecem uma vez por ano, em seu aniversário, quando as demais são permanentes. Trata-se dos balões que o Rei e a Rainha soltam a cada aniversário da princesa perdida.

Em suma, é uma obra-prima e que deu origem à franquia de Rapunzel como super-heroína num estilo semelhante aos animês.

 

Rio de Janeiro, 22 de novembro de 2023.

 

 

Quando faço uma promessa, nunca a quebro."

(Rapunzel)

 

"Olho pela janela há 18 anos, sonhando como deve ser quando as luzes sobem ao céu. E se não for tudo o que sonhei? E se for? O que eu farei?"

(Rapunzel)

 

"Flor, cintile e brilhe;/libere o seu poder/volte o relógio/retorne o que foi meu/cure o que foi ferido/altere o curso do destino/salve o que se perdeu/retorne o que foi meu/o que foi meu."

 

(Canção de cura da Rapunzel)