Babylon, um grande filme

Estou ainda sob o impacto, mas me parece que Babilônia de Damien Chazelle é um dos grandes filmes deste século. É uma fantástica epopeia sobre Hollywood, sobre o brilho e o ocaso das estrelas do cinema, sua vaidade e lubricidade. Um filme barroco, recheado daquela mistura de belo e grotesco (que os apaixonados por Fellini e Peter Greenaway reconhecerão): um maravilhoso tributo à sétima arte. Se o filme não tivesse mais nada de bom, só este shakespeareano diálogo entre Jack Conrad (Brad Pit) e Elinor St. John (Jean Smart) já valeria suas três horas:

— O que você quer, Jack?

— Quero saber por que você escreveu.

— Não, você quer saber por que eles riram. Você quer que eu te diga por que eles riram?

— Claro, Elinor. Por quê?

— Não há um porquê. Não foi a sua voz, nem uma conspiração. E definitivamente não foi algo que eu tenha escrito. Não há nada que você pudesse ter mudado. Não há nada que você possa fazer. Seu tempo acabou. Não há um porquê. Pare de questionar.

— Estou numa fase ruim.

— Não. Acabou. Acabou faz um tempo. Sinto muito.

— Elinor, sua fofoqueira. Você não faz nada. Você não sabe o que é mostrar a cara lá fora. Você é apenas uma barata. Já fui boicotado antes. Isso não é novo para mim.

— Já parou pra pensar que quando há uma casa em chamas as pessoas morrem e as baratas sobrevivem?

— Pelo amor de Deus!

— Você achou que a casa precisava de você. Não precisa. Não precisa de você mais do que precisa das baratas. E as baratas, sabendo disso, protegem-se no escuro, escondidas, e sobrevivem. Mas você… você segura o holofote. Somos nós, escondidos no escuro, os que assistem, que sobrevivem. Uma casa em chamas. E haverá outras centenas. Um terremoto podia varrer essa cidade do mapa e não faria diferença. É a ideia que fica. Haverá outras centenas de Jack Conrads. Outras centenas de mim mesma. Outras centenas de conversas como esta. De novo e de novo, até Deus sabe quando. Porque é maior do que você. Eu sei que dói. Ninguém pediu para ser deixado pra trás. Mas em cem anos, quando eu e você já tivermos partido, toda vez que alguém colocar sua imagem na tela, você vai estar vivo de novo. Sabe o significado disso? Um dia, cada pessoa de cada filme vai estar morta, e um dia, todos esses filmes serão recuperados e seus fantasmas vão jantar juntos, e se aventurarão juntos, irão pra floresta, pra guerra juntos. Uma criança nascida daqui 50 anos vai esbarrar na sua imagem em uma tela e sentir que te conhece… como um amigo, ainda que você tenha dado seu último suspiro antes do primeiro suspiro dela. Te foi dado um presente, seja grato. Seu tempo acabou, mas você passará a eternidade com anjos e fantasmas.

Babilônia é um filme que mergulha no coração da indústria do cinema, mostrando os bastidores do sucesso e da decadência de seus ícones. A trama é uma verdadeira obra de arte, um retrato fiel da glamorosa e sombria Hollywood. O diretor Damien Chazelle conseguiu criar uma atmosfera única, uma mistura de nostalgia e crítica social que nos faz refletir sobre os valores da indústria cinematográfica.

Além da atuação brilhante de Brad Pitt e Jean Smart, a cinematografia é de tirar o fôlego, mostrando cenas impressionantes e um cuidado minucioso com a estética. A trilha sonora, composta por Justin Hurwitz, é outra grande destaque do filme, que consegue transmitir a emoção e a energia das cenas com perfeição.

Mas mais do que um filme sobre o cinema, Babilônia é uma reflexão sobre a vida e a morte, sobre o legado que deixamos para o mundo e como isso afeta a vida das pessoas ao nosso redor. É uma obra que nos faz questionar nossas escolhas e nos convida a repensar nossas prioridades.

Não há dúvidas de que Babilônia é um dos grandes filmes da nossa geração, uma obra-prima que irá marcar a história do cinema para sempre. Damien Chazelle nos presenteou com um trabalho magnífico, que merece ser visto e revisto por todas as gerações. É um filme que nos faz refletir sobre a vida, a morte e o legado que deixamos para o mundo.

19/02/2023