Um filme do Carequinha: Sai de baixo

 

UM FILME DO CAREQUINHA: SAI DE BAIXO

Miguel Carqueija

 

Consta ser “Sai de baixo” a estreia cinematográfica do palhaço Carequinha e também de Norma Blum. É uma típica comédia-chanchada, como se dizia, que os pais levavam as crianças para assistir. Mas é também uma homenagem ao Corpo de Paraquedistas do Exército.

Curiosamente, Carequinha e Fred Vilar interpretam a si mesmos e junto com Raul (Paulo Monte) aceitam o desafio de um sargento interessado na namorada do Carequinha, e se alistam como paraquedistas.

Bem, o enredo é fraco — típico das comédias brasileiras — e as cenas de treinamento militar, mesmo entremeadas de lambanças e palhaçadas, são maçantes. Mesmo assim o filme diverte.

Carequinha, considerado um palhaço lendário (seu verdadeiro nome era George Savalla Gomes e tinha parentesco com o ator norte-americano Telly Savalla), apresenta suas habilidades acrobáticas, suas famosas cambalhotas. A ficha técnica coloca: “Dupla cômica: Carequinha e Fred”, mas o Fred, seu parceiro no circo, não era muito engraçado, era apenas a escada.

A presença de Costinha é curiosa. Ele era tido como um cômico picante, mas num filme infantil com o Carequinha não podia mostrar esse seu lado. Seu papel em “Sai de baixo” é triste: babá do cachorro do coronel. O cachorro era uma graça.

Paulo Monte eu assisti em criança, creio que em algum programa infantil de tv, não me lembro mais qual. O filme é anterior.

Ivon Cury aparece apenas no início, cantando um dos seus números pitorescos. Ele fez muito cinema e era um grande artista, sem dúvida.

Também aparece rapidamente o Zumbi, que participava do Circo do Carequinha no papel do palhaço "mau".

As cenas de briga são muito engraçadas, parecem briga de crianças. Melhor assim, não difundir violência em filme infantil.

Certa vez eu encontrei o Carequinha na rua, em Niterói, na década de 80, já o tinha visto sem pintura na televisão por isso o reconheci. Conversamos um pouco e ele me avisou que no dia seguinte passaria um filme seu na TV Educativa. Eu não sabia e pude assistir por causa desse encontro. Era um curta-metragem de 1978, intitulado simplesmente “Carequinha”: um singelo depoimento que ele deu.

O produtor Herbert Richers, pioneiro da dublagem (nesse filme, por causa do áudio fraco nas tomadas externas, ele fez os artistas dublarem a si mesmos; dessa experiência resultou que o seu estúdio se especializou em dublagem de fitas estrangeiras), é o grande nome por trás de tantas chanchadas com artistas de grande fama nas décadas de 50 e 60.

Atualmente a TV Brasil (antiga TV Educativa) tem às quintas, 22.30, esse horário de cinema “retrô” com as antigas comédias nacionais.

 

Rio de Janeiro, 28 e 29 de agosto de 2023.

 

 

Ficha técnica:

Cinefilmes e Produções Cinematográficas Herbert Richers, Brasil, 1956. Direção e roteiro: J.B. Tanko. Fotografia: George Dusek, Músicas de Luiz Gonzaga. Elenco: Carequinha, Fred Vilar, Paulo Monte, Norma Blum, Aracy Cardoso, Adelaide Chiozzo, Costinha, Ivon Cury, Older Cazarré, Sonia Mamed, Zumbi.