Golden Shot - curta-metragem - por Gökalp Gönen.
É o cenário escuro, tétrico, silenciosamente opressivo. Num quartículo - claustrofóbico, dir-se-ia - quase inteiramente dominado pelas trevas, a lâmpada a bruxulear, até que, enfim, apaga-se de vez, um robô humanóide, de aparência retrofuturista, dedica-se a assistir, num dispositivo que evoca os comuns ao tempo dos primórdios dos desenhos animados, várias pinturas a sucederem-se rapidamente: uma animação que representa uma estrela, enorme, a ocupar todo o cenário, animação que, para o robô, exibe uma história onírica, que ele não pôde assistir do início ao fim porque as lâmpadas, de pouca, ou nenhuma, energia, apagavam-se, e ele tinha de substituí-las por outra, e por outra, e por outra. É angustiante a sua situação. Em certo momento, ele decide se retirar do cubículo em que se encontrava, para verificar um evento, para ele inusitado, que o surpreendera, e vai até o local em que o evento se dera, outro cubículo idêntico ao que ocupava, e lá encontra várias folhas com desenhos a contarem a história que ele assistia, e dentre os desenhos, em uma folha, a cena que, conclui, representa o epílogo da aventura que assistia, e logo viria a se saber que do epílogo não se tratava - ou, sim, o encerramento da história que assistia estava no desenho que ele encontrou, e não correspondia tal fim à história - que a engloba - que está a se narrar, a que o robô protagoniza. Ao regressar ao seu abrigo minúsculo, vê o robô, para o seu desgosto, que lhe furtaram, das prateleiras, todas as lâmpadas; e desaba - desesperançado, dir-se-ia; e logo se reergue: assim que lhe preenche todos os espaços do quartículo a luz; curioso, do quartículo sai, para conhecer o fenômeno que está a reproduzir a derradeira cena do desenho animado que as ilustrações das folhas lhe contaram.
É tal curta-metragem, assim eu o entendo, uma bem elaborada alegoria da existência dos homens, cujos sonhos sustentam-se em alicerces frágeis. Imprevidentemente, no desejo de torná-los realidade, para fugir às amarguras, às tristezas, às coisas desagradáveis da vida, os humanos se deixam conduzir, sem atentarem para a solidez dos sonhos que se lhes desenvolvem à luz dos desejos: a sonharem, mergulham, de cabeça, que está nas nuvens, no mar tempestuoso, sem perceberem os vagalhões que se aproximam, e os rodamoinhos que se formam no céu, que se escurece, e no mar, e do sonho só despertam quando jazem nas profundezas abissais do universo submarino. É esta a leitura que faço desta pequena obra-prima da animação.